sábado, 25 de agosto de 2012

Pelo sim, pelo não...


Pelo sim, pelo não...
Cleonice viu o jornal que estava na mesinha de centro, enquanto encostava a vassoura no sofá. Hesitou por um momento... Ajoelhou-se e começou a folhear as páginas. Sua curiosidade a fazia avançar mais e mais por entre as fotos e os cabeçalhos de cada uma das colunas expostas. Uma manchete, em particular lhe chamou a atenção: “Mulheres revindicam seu lugar na sociedade” e logo abaixo uma foto de várias mulheres segurando uma faixa com as palavras “PUSSY RIOT”. Cleonice parou ali, naquela página. Olhou para o relógio de parede. Pensou... ”Tenho tempo, ora essa.” Ariosto nunca chegava antes de meio dia para o almoço. Além do mais, o feijão e o arroz estavam prontos, só faltava a carne que ficava para mais perto da chegada do marido.
Começou sua leitura devagar, como era de esperar de alguém não tinha muita facilidade com o hábito da leitura, mas ela sabia ler. Fez o primário completo, inclusive o exame de admissão.
Ariosto chegou no horário habitual. Foi fazer xixi. Lavou as mãos. Retirou o paletó e o colocou na cadeira onde costumava sentar-se à mesa. Afrouxou a gravata e prendeu o guardanapo no pescoço, ajustou-se na cadeira, mas algo chamou sua atenção... A mesinha de centro. O jornal estava espalhado! Aquilo nunca acontecera antes. Ele fez de conta que nada havia acontecido.
Cleonice serviu-lhe, primeiro a salada, que Ariosto comeu com maior rapidez que antes, o que provocou este comentário dela: “Chegaste mesmo com fome, né, Ari?” Ariosto apenas respondeu com um muxoxo. Não demorou, ele havia devorado as hortaliças e esperou para que ela lhe servisse as demais iguarias dispostas à mesa. Cleonice sabia que algo não estava bem com marido. Alguma coisa o estava incomodando e deixando ansioso. Ao vê-lo olhar para o jornal por diversas vezes, ela então compreendeu que havia cometido um grande erro: “Xi, mexi, no jornal!” Se havia uma coisa que deixava Ariosto pê da vida era alguém mexer antes dele no jornal. Ele ficava uma fera e ela sabia disso.
Finalmente, ele mal terminou o almoço, jogou o guardanapo na mesa. Pegou o paletó, vestiu, ajeitou a gravata e já na soleira da porta como um sargento aos noviços do quartel exclamou: “Hoje vou sair com os rapazes do arquivo morto e não tenho hora pra chegar!” Mas teve tempo de ouvir Cleonice dizer: “Ô, Ari, cê já ouviu falá num tal de PUSSY RIOT?
Ariosto chegou por volta das seis e meia em casa, como de costume e ainda teve tempo de passar na padaria dos irmãos Potel para comprar umas bombinhas de chocolate que a “Cléo” adorava.
(por Hélio Jorge Cordeiro 25/08/2012)

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