quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Um pouquinho da A Noiva do Porto



(…) Cidade do Porto, Portugal, Outono. Era uma daquelas manhãs majestosas, de se fazer acreditar que o mundo foi criado durante uma delas. Se todo o céu fosse derramado sobre a cidade, tingiria o Porto de um azul anil jamais visto em nenhuma escala de cores de que se tem conhecimento.

Em Vila Nova de Gaia, do outro lado do Douro, a luz da manhã iluminava os casarios das caves das companhias de vinhos, criando um cenário único, digno de uma pintura dos grandes mestres. O céu permaneceu assim, limpo, luminoso, incandescente, por toda aquela manhã. 

A tardinha foi chegando mansamente, preguiçosa. Com ela, chegaram os pássaros, que, aos bandos, se recolhiam em grandes revoadas aos seus aconchegantes ninhos, distribuídos pelos galhos das árvores e por entre as brechas dos telheiros dos casarios centenários, morro acima do cais. Enquanto isso, os Rebelos findavam suas tarefas por aquele dia e se aconchegavam nas paredes do cais da Ribeira.

Então, finalmente, chegou a noite. Soprava uma friezazinha gostosa, daquelas em que sempre nos apetece uma taça ou mais de um tinto, nesse caso tripeiro que, acompanhado ou não, é mais que um dileto conluiado.

As luzes logo iluminaram a Ribeira, ao longo de suas ruas, de suas vielas e de seu cais. O Douro, como um espelho vivo, passou a refletir todas elas em ambas as margens, multiplicando-as por todo o velho bairro, em seus carcomidos casarios com frontarias de granito. Assim também reverberavam de brilhos um lado e o outro da ponte Dom Luís, revelando diversos espectros, em suas ferragens, que não se costuma ver à luz do dia. As luzes seguiam iluminando o Douro até onde ele banha o mar, e iam se diluindo por entre as marolas sequenciadas, que prenunciavam noite de maré alta.

Na Ribeira, havia uma velha pensão de fachada de granito encardido, onde morava todo o tipo de gente: estudantes, trabalhadores de todas as profissões, rufiões travestidos de bons-moços e raparigas de reputações impolutas, ou quase isso. Aquele pardieiro não era o único com esses tão díspares habitantes.
No primeiro andar da deletéria edificação, havia um quarto, entre tantos outros, onde morava a personagem dessa história. (...)

Ta chegando a hora!

Pessoal, esta chegando a hora de se preparar para os festejos de fim de ano e depois cair na folia com o Bloco Anarco-Carnavalesco Filhos de Maria do Cais 2015!


sábado, 29 de novembro de 2014

Martín Fierro


























Aqui está mais uma vez, em meu blog, o grande Jorge Luis Borges. Boa leitura neste final de semana a todos vocês!

Martín Fierro


Jorge Luis Borges

De esta ciudad salieron ejércitos que parecían grandes y que después lo fueron por la magnificación de la gloria. Al cabo de los años,alguno de los soldados volvió y, com un dejo forastero, refirió historias que le habían ocurrido en lugares llamados Ituzaingó o Ayacucho. Estas cosas, ahora, son como si no hubieran sido.

Dos tiranías hubo aquí. Durante la primera, unos hombres, desde el pescante de un carro que salía del mercado del Plata, pregonaron duraznos blancos y amarillos; un chico levantó una punta de la lona que los cubría y vio cabezas unitarias com la barba sangrienta. La segunda fue para muchos cárcel y muerte; para todos un malestar, un sabor de oprobio en los actos de cada día, una humillación incesante. Estas cosas, ahora, son como no hubieran sido.

Un hombre que sabía todas las palabras miró con minucioso amor las plantas y los pájaros de esta tierra y los definió; tal vez para siempre, y escribió con metáforas de metales la vasta crónica de los tumultuosos ponientes y de las formas de la luna. Estas cosas, ahora, son como si no hubieran sido.

También aquí las generaciones han conocido essas vicisitudes comunes y de algún modo eternas que son la materia del arte. Estas cosas, ahora, son como si no hubieran sido, pero en una pieza de hotel, hacia mil ochocientos sesenta y tantos, un hombre soñó una pelea. Un gaucho alza a un moreno con el cuchillo, lo tira como un saco de huesos, lo ve agonizar y morir, se agacha para limpiar el acero, desata su caballo y monta despacio, para que no piensen que huye. Esto que fue una vez vuelve a ser, infinitamente; los visibles ejércitos se fueron y queda un pobre duelo a cuchillo; el sueño de uno es parte de la memoria de todos.


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mais um livro: Antônia






































Prefácio
 

Ler Hélio Jorge Cordeiro é se transportar para os cenários em que as tramas acontecem. O autor pega você pela mão e convida para um passeio em sua narrativa, dado a riqueza de detalhes das personagens, dos ambientes e a descrição das sensações.

A localização geográfica muito bem demarcada, com todas as suas características regionais, paisagens e sotaques, é uma constante em seus livros. Outro ponto sempre presente em suas obras é a contextualização com a conjuntura política em que se dá o enredo. 


Como todo bom autor, Hélio Jorge é um observador atento a tudo que lhe rodeia. Quem lhe conhecesse pessoalmente e lê sua obra reconhece entre as tramas, tipos e lugares comuns no dia-a-dia, mas que ganham singularidade nos seus textos. 


O pernambucano radicado em Santa Catarina, artista plástico, publicitário, programador de filmes, diretor de arte, roteirista cinematográfico e escritor, é autor de O Suicida, Onde o Diabo Perdeu as Botas e Malvadeza Durão.


Traz de sua experiência na área do cinema, o jeito de contar histórias; da sua vivência política, o contexto histórico, que faz com que a ficção se amalgame com a realidade. Ingredientes que tornam a leitura palatável, como se o escritor estivesse ao seu lado narrando os “causos”, como o faz com os amigos, que têm o privilégio de desfrutar de sua enriquecedora companhia. 


Antônia, o quarto livro publicado pelo autor, poderia ser mais uma saga de uma família nordestina esfacelada pelo flagelo da seca e da miséria que parte em procura de um futuro melhor no sul. Mas Hélio Jorge Cordeiro transportará você do sertão de Pernambuco a São Paulo, numa viagem que prenderá o leitor até a última página.
Como se diz na terra do autor: se aboletem e boa leitura!


Mirian Arins
Jornalista e Produtora Cultural.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Finalmente!

"Acaba de sair do forno o novo livro do amigo e escritor Hélio Jorge Cordeiro: A Noiva do Porto. A Chiado Editora irá distribuir o livro em Portugal e no Brasil. Em breve nas melhores lojas do ramo... aguardem! - Mirian Budal Regina (jornalista)

"Em A Noiva do Porto, o escritor Hélio Jorge Cordeiro cria uma narrativa repleta de símbolos psicológicos, na qual o personagem principal busca sua própria identidade. O sonho de se tornar uma noiva, por um dia, o leva a empreender uma jornada repleta de intrigas, preconceitos, interesses e morte.
A narrativa se passa na cidade do Porto (Portugal), numa época indeterminada, mais não muito distante dos tempos atuais. A trama começa quando narrador, conhece um homem cego em Milão que lhe narra a historia do personagem e toda a sua trajetória de vida e seu sonho de se tornar uma noiva. Mas como sabemos, tudo nada vida tem um preço, até as mais simples das coisas pode nos custar muito."

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Um lugarzinho para chamar de meu!
















Finalmente, depois de quase dois meses completos aqui na França, mais precisamente, em Aix-en-Provence, eu encontrei um lugar onde pude me sentir em casa. Sim, em casa, porque gosto muito das coisas ligadas a Ilha; a musica, a bebida e a graça e descontração do povo cubano, e, claro, sua historia de lutas contra os opressores. Dai, o meu fascínio pelas cores e tudo de Cuba.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Houve uma vez um carnaval...





















HOUVE UMA VEZ UM CARNAVAL E O MENINO QUE FAZIA ANIVERSÁRIO
NA TERÇA-FEIRA GORDA

Por Hélio Jorge Cordeiro

Segunda-feira gorda, terça-feira gorda... Realmente eu não sei se é por muita fartura ou se é em homenagem ao deus Momo. Isso mesmo, deus! Segundo algumas fontes, Momo era o deus dos escritores e poetas, espírito mal-intencionado e um crítico injusto. Nenhuma novidade. Todo crítico parece ser sempre injusto, pelo menos para os criticados, mas deus dos escritores e poetas?! Pelo menos eu não vi nenhum adepto das letras daqui se esbaldando nos festejos dedicados a ele, Momo. Esse deveria ser o nome de um sabão em pó só pra lavar fantasias de carnaval!

Para mim, a segunda-feira gorda sempre foi um dia meio híbrido: nem tudo abre nem tudo fecha ou vice e versa. Resolvi seguir à risca o que havia me prometido fazer no dia: “Vou fazer algumas obrigações domésticas e, em seguida, quero ver como a cidade se comporta com a alegria dos outros.”

É isso mesmo, a alegria dos outros, já que a cidade do outro lado do rio se veste com peruca, sutiã, saia, calcinhas e marias-chiquinhas e outros badulaques próprios do sexo feminino e se solta. Ou será que é ao contrário, as pessoas daqui é que vestem peruca, sutiã etc., e vão pra lá se soltarem? Bom, o movimento estava tão intenso que pensei: “É isso aí, festa boa é mesmo na casa dos outros.” É que eu tive a sensação de que toda Itajaí tinha ido embora para Navegantes se esbaldar. Meu Deus! Era gente a dar com pau na grande arca da travessia!

Ao chegar ao mercado público, fui direto ao meu reduto boêmio, onde faço minha purgação. Purgação no bom sentido, é claro. Ao chegar, vejo a jovem gerente do Café e Cultura dando um trato no chão do estabelecimento; isso me fez sentir como se eu estivesse nas escadarias do Bonfim, na velha Bahia de Castro Alves, do Abaeté, das noites de magia e do candomblé, como diz o samba-enredo. “Só falta água de cheiro!”– pensei alto levantando os pés para não vê-los molhados.

Olhei pro outro lado do rio e comecei a escutar alguns sons que me diziam: “Hoje é mesmo carnaval!”

Terminada a lavação, pedi uma cerveja e me sentei na calçada que dá vistas para o grande rio. – Não existem mesas naquele lado, mas pedi um banquinho, aliás, dois, um para mim, outro para cerveja – companheirismo é isso! – e fiquei lá quieto só observando um bloco que subia e descia. Esperem, o bloco era de gaivotas que, assanhadas, voavam de um lado pro outro, para cima e para baixo.

O movimento de carros começou a se acentuar, assim como, a minha sede. Dei mais umas boas goladas na “loirinha”. As pessoas chegavam de carro, estacionavam no terreno em frente, agitadas, ansiosas. Algumas, fantasiadas de mulher, outras, de arremedo de mulher e outras, de alguma coisa que lembrava bem de longe as duas primeiras opções.

Bom, o sol ainda se fazia soberano no firmamento, mas o calor aos poucos foi dando lugar a um arzinho frio e, de repente, começou a soprar uma brisa, digamos assim, argentina. “Tudo bem, é segunda-feira gorda e estamos em pleno carnaval.” – eu pensei tentando me consolar. Fiquei firme no meu lugar, com brisa e tudo. Logo, uma cerveja se foi e, mais rápido ainda, outra logo veio – rei morto, rei posto!

Continuava o fluxo de gente em frente ao mercado, pra lá e pra cá, aliás, mais pra lá do que pra cá. De repente, parou! “Cadê o povo?!” – me perguntei, surpreso. As pessoas tinham sumido! Tentei relaxar, mas o barulho que vinha do outro lado do rio contrastava com o silêncio que se formara do lado de cá. Silêncio, aliás, que não perdia para nenhum mosteiro beneditino da Capadócia.

Como a brisa estava mais pra Riquelme do que pra Júlio Baiano, me recolhi para o interior do recinto e, mais uma vez, me deixei relaxar. Todavia, não estava satisfeito com o silêncio. Aquilo me incomodava. Então fui para fora, para calçada, equilibrando minha tulipa – não a flor, mas o copo onde se costuma abrigar uma cerveja bem geladinha. Não demorou, apareceu Claudinha, parceira de bar, e com ela uma amiga. Tinham vindo de Navegantes. “Que bom, notícias frescas da folia!” – pensei com uma alegria quase orgástica.

Papo foi, papo veio, curiosidade satisfeita, aí, para minha surpresa, chegou nada mais nada menos que André Pinheiro. – seu sobrenome poderia ser carvalho, imbuia, jacarandá ou qualquer outra madeira nobre. Todas lhe cairiam muito bem, pois se trata de um sujeito muito legal. Foi realmente uma surpresa. Faço aqui uma confissão: eu achava que André era uma entidade da umbanda que descia apenas no Sarau Benedito. Não, ledo engano o meu! Lá estava ele em carne e osso e sem cabelo! Começamos a beber – eu cerveja e ele café – o que mostrava que eu e André tínhamos algo mais que incomum! – Eram agora: Claudinha e sua amiga, eu e André. Conversamos e conversamos. Tema: religiosidade! É, nem tudo é gandaia, minha gente! Esperei que alguém dissesse o que estava fazendo ali, já que o carnaval queimava os pés do povo no outro lado do grande rio. Nenhuma justificativa plausível foi posta à mesa, então demos continuidade ao falatório sem mais preocupações.

Ficamos a conversar por lá um bom tempo, até que cada um decidiu ir embora, aliás, eles decidiram ir embora, mas eu não! Fiquei mais um pouco na esperança de me sentir realmente em plena segunda-feira gorda de carnaval. Não deu! Assim, diante dos fatos, decidi fechar a conta e saí andando com os meus próprios pés! Como diria frei Damo: “Cioè uno miracolo!”

Segui pelo centro até a igreja matriz sem ver uma alma viva. Aliás, como diz a santa madre igreja católica: a alma não morre nunca! Quando despontei na frente à edificação religiosa, vi um pequeno aglomerado de pessoas à beira do lago artificial! Todos se deliciando com as iguarias do Medonho. Sujeito simpático, o Medonho. –“Pior seria se o nome dele fosse Simpático, porém um sujeito medonho!” – pensei aliviado. Fui até ele e o cumprimentei como sempre fiz ao longo desses anos em que moro em Itajaí e como seu hot-dog. Adquiri um exemplar de sua iguaria e segui mastigando o quitute pela isolada, desértica e solitária Rua Brusque. Êpa! Não é bem assim, havia gente andando nela!

À minha frente, ia um casal, que seguia discutindo. Ela o arguia querendo saber por que ele não assumia a relação com ela. Já ele, se desculpava com vários “Você não entende, nega!”. Não quis intervir, mesmo porque eu tinha me engasgado com o excesso de ervilhas na guloseima do Medonho, então me apressei e passei os dois. Foi como se estivesse na São Silvestre, em 1º de Janeiro, em SãoPaulo. Ah, não gosto de rompimentos. É triste, é chato e dói para cacete.

Continuei à frente dos dois dissidentes amorosos e fui dar de cara com um grupinho de rapazes que andavam à nossa frente, cujo papo era sobre um deles que estava trajado de “mulher”. Zinino – acho que era o nome do gajo! – tinha sido vítima de uma mão-boba em Navegantes e estava fulo da vida, porque todos estavam afirmando ter acontecido, de fato, o assédio à sua região do glúteo. Só para registrar: O sujeitinho tinha um bundinha de fazer inveja a qualquer tanajura chamando chuva em pleno verão. Bom, permaneci caminhando bem atrás deles. – Eu disse “deles” e não “dele”. O tal de Zinino afirmava, categoricamente, que ninguém tinha passado mão na bunda dele, enquanto seus amigos – amigos?! – diziam o contrário e se lascavam de tanto rir. Assim foi até eu decidir deixá-los para trás – pôxa, não aguento gente que não diz a verdade!

Estava terminando o “medonho” quando, de repente, apareceu em minha frente um menino que me seguiu emparelhado. Não sei de onde o danado saiu! Ele me olhou e perguntou: “Quantas horas? – “São meia-noite e dez.” – “Puxa, já é o meu aniversário! - “Ei, é o seu aniversário? Quantos anos você faz? – “Faço doze anos!” – “Parabéns! – “Obrigado!” – “Olhe, tenha juízo!” Fez-se então um silêncio próprio das noites de Itajaí, numa madrugada de carnaval. Para não ficar assim, eu então lhe disse: “Assim como você, eu também fiquei feliz quando eu fiz os meus doze anos! Aproveite.” Ele apenas deu um sorrisinho e disse um inaudível tchau. O menino entrou numa casa e eu segui em frente, agora sozinho.

Na rótula do Posto Presidente, soprou uma brisa e, com ela, veio uma sensação tão boa, que realmente achei que estava numa segunda-feira gorda da minha infância em Recife!

Ah, eu só fui ver gente outra vez, pela manhã, quando me acordei e fui ao espelho, mas daí já era terça-feira gorda e o menino, quem sabe, estivesse ansioso para ver seus presentes e soprar suas doze velinhas lá pelo fim da tarde.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Porque preservar a história


Quando se ama sua aldeia e a quer para à história, preserva-se. Assim é Aix-En-Provence, por ela passaram os romanos que construíram termas, entre outras cositas bobas. Aqui está uma vista de uma das principais vias da cidade, a  Cour Mirabeau. Uma espécie de Hercílio Luz local, só que mais velha e cheia de bares, restaurantes, lojas, bancos, farmácias, corretores imobiliários, charutaria, feirinha de artesanato quase todos os dias, enfim, o escambáu (palavra muito comum nos anos 70!).


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Bobos, burros e enganadores!



















Gente, olha só o que significa a consciência do autor, transferida para o seu personagem. A literatura é mesmo crucial para o desenvolvimento do pensamento humano e sua relação com a sociedade. Aqui, nesta frase, de seu "Pergunte ao Pó", John Fante mostra como ele é mesmo um grande pensador de nosso tempo:



(...) Acredito na transposição de valores, cavalheiro.  A Igreja precisa

acabar, é o refúgio da “burroguesia”, de bobos e brutos e de todos os baratos

charlatães. (...) – Arturo Bandini 

(Pergunte ao pó – John Fante)



domingo, 3 de agosto de 2014

Malvadeza Durão e Onde o Diabo Perdeu as Botas são 200!




















Eba! Malvadeza Durão e Onde o Diabo Perdeu as Botas  atingiram 200 leituras no Widbook.com! Muito bom, muito bom! Até as 300ª!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Fé versus conhecimento





Pessoal, acabei de ler um conto maravilhoso, chamado A Mother’s Tale, escrito por James Agge e que me foi indicado pelo meu caro amigo, Enzo Potel, também escritor.


De fato, o conto é uma maravilha, como advertiu- me Potel. Mesmo em inglês, a leitura é fácil, direta e sem muito “eruditismo” literário. O relato é de quem está falando para crianças. Agee escreve a história de uma mãe, que diante de seu filho e demais jovens, narra, após os questionamentos de seu filho “What are they doing? Where are they going?”, o que acontece com um agrupamento que se dirige para um trem, carregado de vagões. O entusiasmo e a ânsia estão presentes nesses questionamentos, próprias dos jovens sedentos de conhecimentos. Há uma notória presença da representação do que seja ter fé e acreditar através dela e acreditar através do conhecimento. Ambos estão embutidos na história contada pela mãe e que lhe foi contada pela sua avó e bisavó através dos tempos. 

Ah, o melhor é que mãe em questão é uma vaca e o seu filho, um bezerro. Os outros jovens são bezerrinhos também curiosos como ele.

Eis aqui duas páginas do conto:



A Mother's Tale
By James Agee


The calf ran up the hill as fast as he could and stopped sharp. "Mama!" he cried, all out of breath. "What is
it! What are they doing '! Where are they going!"
Other spring calves came galloping too.
They all were looking up at her and awaiting her explanation, but she looked out over their excited eyes. As she watched the mysterious and majestic thing they had never seen before, her own eyes became even more than ordinarily still, and during the considerable moment before she answered, she scarcely heard their urgent questioning.
Far out along the autumn plain, beneath the sloping light, an immense drove of cattle moved eastward. They went at a walk, not very fast, but faster than they could imaginably enjoy. Those in front were compelled by those behind; those at the rear, with few exceptions, did their best to keep up; those who were locked within the herd could no more help moving than the particles inside a falling rock. Men on horses rode ahead, and alongside, and behind, or spurred their horses intensely back and forth, keeping the pace steady, an   d the herd in shape; and from man to man a dog sped back and forth-, incessantly as a shuttle, barking, incessantly, in a hysterical voice. Now and then one of the men shouted fiercely, and this like the shrieking of the dog was tinily audible above a low and awesome sound which seemed to come not from the multitude of hooves but from the center of the world, and above the sporadic bawlings and bellowings of the herd.
From the hillside this tumult was so distant that it only made more delicate the prodigious silence in which the earth and sky were held; and, from the hill, the sight was as modest as its sound. The herd was virtually hidden in the dust it raised and could be known) in general, only by the horns which pricked this flat sunlit dust like little briar. In one place a twist of the air revealed the trembling fabric of many backs; but it was only along the near edge of the mass that individual animals were discernible, small in a driven frieze, walking fast, stumbling and recovering, tossing their armed heads, or opening their skulls heavenward in one of those cries which reached the hillside long after the jaws were shut.
From where she watched, the mother could not be sure whether there were any she recognized. She knew that among them there must be a son of hers; she had not seen him since some previous spring, and she would not be seeing him again. Then the cries of the young ones impinged on her bemusement: "Where are they going?"
She looked into their ignorant eyes. "Away," she said.
"Where?" they cried. "Where? Where?" her own son cried again. She wondered what to say.
"On a long journey."
"But where to?" they shouted. "Yes, where to?" her son exclaimed; -and she could see that he was losing his patience with her, as he always did when he felt she was evasive.
"I'm not sure," she said.
Their silence was so cold that she was unable to avoid their eyes for long.
'Well, not really sure. Because, you see," she said in her most reasonable tone, I've never seen it with my own eyes, and thats the only way to be sure; isnt it?



They just kept looking at her. She could see no way out.
"But I've heard about it," she said with shallow cheerfulness, "from those who have seen it, and I don't suppose there's any good reason to doubt them."
She looked away over them again, and for all their interest in what she was about to tell them, her eyes so changed that they turned and looked too.
The herd, which had been moving broadside to them, was being turned away, so slowly that like the turning of stars it could not quite be seen from one moment to the next; yet soon it was moving directly away from them, and even during the little while she spoke and they all watched after it, it steadily and very noticeably diminished, and the sounds of it as well
"It happens always about this time of year," she said quietly while they watched. "Nearly all the men and horses leave, and go into the North and the West."
"Out on the range," her son said, and by his voice she knew what enchantment the idea already held for him.
"Yes," she said, "out on the range." And trying, impossibly, to imagine the range, they were touched by the breath of grandeur.
"And then before long," she continued, "everyone has been found, and brought into one place; and then . . . what you see, happens. All of them.
"Sometimes when the wind is right," she said more quietly, "you can hear them coming long before you can see them It isn't even like a sound, at first. It's more as if something were moving far under the ground. It makes you uneasy. You wonder, why what in the world can that be! Then you remember what it is and then you can really hear it. And then finally, there they all are.
She could see this did not interest them at all. "But where are they going?" one asked, a little impatiently. "I'm coming to that," she said; and she let them wait. Then she spoke slowly but casually. .
"They are on their way to a railroad."
There, she thought; that's for that look you all gave me,"-hen I said I wasn't sure. She waited for them to ask:
they waited for her to ex- plain.
"A railroad," she told them, "is great hard bars of metal lying side by side, or so they tell me, and they go on and on over the ground as far as the eye can see. And great wagons run on the metal bars on wheels like wagon wheels but smaller, and these wheels are made of solid metal too. The wagons are much bigger than any wagon you've ever seen, as big as, big as sheds, they say, and they are pulled along on the iron bars by a terrible huge dark machine, with a loud scream."
"Big as sheds?" one of the calves said skeptically.
"Big enough, anyway," the mother said. "I told you I've never seen it myself. But those wagons are so big that several of us can get inside at once. And that's exactly what happens."
Suddenly she became very quiet, for she felt that somehow, she could not imagine just how, she had said altogether too much.
"Well, what happens?" her son wanted to know. "'What do you mean, happens?"
She always tried hard to be a reasonably modern mother. It was probably better, she felt, to go on, than to leave them all full of imaginings and mystification. Besides, there was really nothing at all awful about what happened . . . if only one could know why.

Continua, é só copiar e colar: http://arkfl.rescuegroups.org/info/file?file=s3232m5986.pdf