quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Do insólito às cegueiras

Vou começar pela exposição da Sociedade dos Pintores do Ângulo Insólito na Experimenta – Arte e Cultura Experimental, na Rua Gumercindo Saraiva, 54 – Jardim Europa, São Paulo que ocorreu de 02 a 13 de corrente mês.

Tive a satisfação de poder apreciar a exposição Jardim do Sorriso Interior. Sem dúvida, fui agraciado com uma mostra das mais interessantes, que envolveu mais de uma dezena de quadros, de formatos iguais - acho que um metro e cinqüenta, por um e cinqüenta, (depois me corrijam se eu estiver errado!) - onde cores e formas se juntavam para criar um universo irreal, lúdico e, é claro, insólito. Os elementos existentes; números; letras, pegadas, flores, cachorros, palhaços etc, davam a sensação de que estávamos num cenário repleto de elementos que iam do primitivismo ao figurativismo sem nenhuma cerimônia. Uma grande “viagem”, portanto. Ah, acrescido a isso, me foi entregue um par de ósculos 3D, para que a minha excursão fosse completa. Decidi apreciá-los duas vezes: uma com os óculos e outra sem. Enfim, valeu a pena ter ido até a Experimenta naquela manhã meio cinzenta, já prenunciando chuva.

Parabéns ao Retta, Rafaelo, Odécio, Patrick e demais artistas envolvidos na exposição. É uma pena que ela não possa ser vista por todos os catarinenses, muito principalmente pelos itajaienses, que, sem dúvida nenhuma, iriam se orgulhar de seus conterrâneos.

Aproveitando a minha estadia em São Paulo, resolvi assistir a dois filmes: um árabe-francês, intitulado “Barakat!”, de Djamila Sahraoui e, o outro, o filme de Fernando Meireles “Ensaio sobre a Cegueira”. Os dois, coincidentemente, falam sobre cegueira, mas cada um ao seu modo.

O primeiro relata um tipo de cegueira muito comum no mundo mulçumano: a do preconceito machista. Barakat!, que traduzido para o português significa Basta!, é uma produção simples que se parece com os nossos filmes dos anos 90, de baixo orçamento. Contudo, o tema é pertinente, nestes tempos de “tudo contra os terroristas”. A narrativa leva o espectador pra dentro de uma Argélia entreguista, onde o fanatismo impera. Nesse cenário, o filme conta a história de uma jovem médica, Amel, interpretada por Rachida Brakni, na busca de seu marido, jornalista seqüestrado pelos terroristas fundamentalistas e uma velha enfermeira, que decide acompanhá-la nessa aventura. Ao longo da jornada, enquanto elas se defrontam com as prepotências e fragilidades dos homens, suas diferenças vão aparecendo e sendo superadas, com o apoio de um camponês viúvo, homem de coração bom que decidiu dizer “Basta!” à aquele universo machista e belicista.

A meu ver, ao utilizar atores que parecem gente comum, a diretora nos leva a crer tratar-se de um filme documental. Sendo assim, passível de falhas em sua estética visual. Se Barakat! não é um filme excelente do ponto de vista de produção, é no mínimo um grande esforço do cinema árabe para falar de preconceito num universo predominantemente fundamentalista. O trabalho de Djamila Sahraoui é um oásis nesse mercado tão repleto de efeitos especiais de computação. Além disso, o filme tem mais um ponto a seu favor: é árabe e dirigido por uma mulher. Já valeu pela proposta.

Quanto ao segundo filme, baseado no sucesso literário do escritor português, prêmio Nobel de literatura, José Saramago, consolida, no meu ponto de vista, a carreira de Fernando Meireles, cineasta brasileiro, já aclamado no mundo pelos seus: Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel, filme baseado no romance de John Le Carré. O filme é sem sombra de dúvida uma crítica feroz ao ser humano e sua cegueira. Não a cegueira dos olhos, mas, sobretudo, a cegueira de espírito. A cegueira que cria a mesquinhez, a individualidade, a arrogância. Contudo, a história nos dá um alento, ou nos faz respirar quando nos mostra que há sempre uma esperança. Os atores e atrizes estão muito bem, principalmente, Julianne Moore. Ela se entrega às cenas de forma incisiva. Mostra-se toda, inclusive, me chamou a atenção o fato dela não esconder suas sardas. Natural, portanto. Boas são também as atuações de Mark Ruffalo, Danni Glover, Alice Braga e Gael García Bernal que faz um papel pequeno, porém importante. Um filme para ser apreciado, não só pelos olhos, mas pela alma.

Ah, só lamentei o fato de o filme se parecer com as produções que falam de catástrofes, que os americanos fazem muito bem nas cenas exteriores; ruas vazias, carros virados etc. Já nas cenas interiores, o filme nos aproxima mais dos personagens, como seria de se esperar dessa estética, e ai todos nós ficamos cegos também como os personagens. Assim, seguimos até o fim, sem saber muito bem pra onde estamos indo ou do que realmente somos capazes de fazer com nossa cegueira. Valeu o ingresso!

11 comentários:

Anônimo disse...

"Ah, só lamentei o fato de o filme se parecer com as produções que falam de catástrofes, que os americanos fazem muito bem nas cenas exteriores; ruas vazias, carros virados etc."

> eu também estava com esse medo, acredita? agora ele é uma realidade hahaha não sei quando verei esse filme...

E SE DEUS QUISER JULIANNE MOORE LEVA O OSCAR AGORA!

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Pois, é, Anzol, foi só uma constatação, mas que não tira o mérito do trabalho de Fernando Meireles, e, é claro, da história de José Saramago.

Como disse: valeu o ingresso pago.

Ops, rimei!

Anônimo disse...

Adorei as indicações... também estou na espectativa de ver o filme do Meireles... só senti falta de você não comentar sobre seu amigo "Ualter" Sales... hahahahhaah sorry, mas tive que fazer esse pequeno comentário...

ah! terminei o livro... comentários no "show ao vivo"... hahaahahaa

bjos querido

Anônimo disse...

e gente.. já saiu o trailer do Harry Potter 6!!

http://www.youtube.com/watch?v=837NPBFCg1k

kkkk

Anônimo disse...

Gato... um luxo o trailer... mas que objeto era aquele que o Dumbledore dá pro menino Harry hein... desconfio... heheehehhe

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Gente, vocês são tão venenosos!

Quanto ao Ualter Salis, bem que ele gostaria ter feito a cegueira do saramago, né não?rss

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Em tempo: o filme que está passando no Cine Cubancheiro é "Um Estranho no Ninho", baseado no livro de Ken Kasey "One Flew Over The Cuckoo's Nest", dirigido por Milos Forman e interpretado porJack Nicholson.

Ah, pipoca é de grátis!

Unknown disse...

Hélio!
.
Segue o link do filme que comentei:
.
http://www.goodcopybadcopy.net/
.

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Valeu, Zamy, vou acessar logo!
kisses dear

Sandra Knoll disse...

que cinema é esse?
ichi...to por fora né?
Bom...comentando sobre os insólitos...eu vi a produção sendo feita...acho lindo mesmo.

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Sandra, é o primeiro Gadget que está no lado direito na minha front-page, acima da claquete de cinema. Aparece uma ilustração em preto e cinza com uma telinha de cinema onde está escrito: "Cine Cubancheiro - Apresenta". Click lá e vc assiste ao filme! Simples, né?