quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte...

Amigos, estou aqui em São Paulo e após minhas andanças pelas ruas desta cidade incrível, retornei inspirado a escrever. Assim o fiz. Então, antes de postar "Férias em Peruíbe", vai aqui um conto curto para vocês.


POR NÓS PECADORES,
AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE...


Manhã ensolarada. Domingo. Céu de Deus, dizia baixinho. Olhar lânguido. Boca seca. Um doce – Ah, que delícia! – gritou pra dentro e olhou pros lados com vergonha. Abaixou-se e pediu desculpa. Apanhou um pedaço. Limpou-o nas calças, seguras por suspensórios surrados, ganho da madrinha. Meu Deus, como esse menino engordou!, dizia a mãe, como que praguejando por não conseguir ver crescidos seus próprios peitos. Ninguém os apalpava. Roupas simples, mesmo assim, ele foi pra missa. Rezou. A mãe não quis ir buscá-lo. Sempre que podia, fazia isso e ele voltava depois, sozinho e meio triste. Terminado o sermão, batidas de pé no piso de madeira. Bundas a remexer inquietas. Falatório inconfundível. Que bosta!, disse um imbecil a outro na saída. Ele foi mais uma vez para a sacristia, como quem segue para o, digamos assim, matadouro. A porta fechou-se. Não mais se ouviu a balbúrdia de minutos atrás. Ajoelhou-se, fechou os olhinhos castanhos claros, os xodós da madrinha, mas da mãe nem pensar, ela os achava como os de ratos. A braguilha se abriu e um enorme e cavernoso pau entrou raspando os lados da boca pequena que só conhecia pouca comida, bolinhos de araruta e, é claro, o grande pau sacro. Chorou baixinho, enquanto entoava, como podia e de boca cheia, uma ladainha muito conhecida pela comunidade religiosa do lugar. Levantou-se, ajeitou os suspensórios. As calças eram apertadas e entravam cuzinho adentro, revelando suas rechonchudas nádegas. Uma mão enrugada as alisou. Desceu as calças, ainda sujas de fezes, até os pés – Se limpa direito, peste!... Um gemido ecoou no pequeno recinto. Uma lágrima desceu-lhe o rosto. Procurou o céu, não viu. Uma boca meio torta e velha sorriu-lhe. A mão enrugada foi estendida. Um ósculo sob as vistas do Senhor Jesus. – Deus o abençoe! O ânus ardido em sangue era tudo o que tinha, além de bolinhos de araruta. – Que bom homem! E você não quer ir à missa... Peste, ingrato! – dizia a mãe, enquanto enchia a boca, não de espermas, mas de açucarados bolinhos de araruta. Vidinha jogada fora. De fora para dentro. Um pecado sem perdão e dois homens destruídos para todo o sempre, amém.


15 comentários:

INSOLIT ANGLE COMBO - Sociedade do Ângulo Insólito disse...

o caro helinho...ve se vai na Expo do Angulo Insolito no Jardim Europa....R:GUmercindo Saraiva, uma ruazinha entre a Faria Lima e AV Europa...vai ficar ate 27 de setembro..GAleria Experimenta.
veje o blog: insolitangleco.blogspot.com
Abs
rafaelo

Anônimo disse...

Maravilhoso Hélinho... daria um curta hien... o que achas?!... e como está Sampa... cativante como sempre né!!!

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Rafa! Vou ver se amanhã de manhã dou um puliho por lá e pretigiar os meus insólitos amigos! Depois irei transfomar minhas críticas em lúiquido que passarinho não bebe, e não é leite não, hein!

Camilinha! Sampa está mais incrível do que nunca. Escrevi uma crônica sobre sampa, mas irei postá-la mais tarde.

O meu "O Suicida", agora, faz parte do acervo da Martins Fontes da Paulista, meu! - Já fazia do acervo da Livraria Cultura - Legal, né? Já me convidaram para fazer uma tarde de autógrafo quando lançar "Onde o diabo perdeu as botas". Orra, meu é eu na fita, mano! Falta agora um editor! Alô editores do planeta! Olha, mina, parece que apenas uma esquina separa Itajaí de Sampa! Hahaha!

kisses!

Anônimo disse...

hahaaaah... nossa Hélinho, que bom... fico feliz por você e seu talento... de enganar os outros... hehehee... brincadeirinha você sabe né!!!!... traga uma bagagem boa daí heim... indicações interessantes e relevantes... se vier de mente abanando eu te mato... heheheheh...
aproveite e quebra tudo aí!!!!

bjão

Anônimo disse...

Cara,tu tá em Sampa é? Não recebeste meus enviados? Give my regards to Martins Fontes e esta é a fonte de tudo! Falando sério, recebeu algo, pelos correios ou por e-mail? Fala que eu te escuto!

Besos,

Euzinha

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Euzinha, meu bem! Claro, Jessier! É de morrer ou de matar de rir! Valeu, meu docinho de umbu!

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Rafa e Adriano, meus amigos! Hoje estive na Experimenta- Arte & Cultura Experimental - Jardim do Sorriso Interior.

Me senti muito feliz, pois vi alí, todos os esforços de vocês, do âgulo insólito, realizados. Parabéns.

O "must" da expô, foi os óculos 3D. D+, gentem! A proposito, não comprei nada, pois estava apenas com francos suíços na carteira e eles não sabiam o câmbio dessa moeda! Hahahah!

O chato...É tem um chato nisso. Não deixaram eu pegar um par de óculos, orra, que pobreza, meu! rsss!

Unknown disse...

porra...francos suíços...aí é demais...aliás, descobri um site onde dá pra ouvir o cuco cantando - ou fazendo cu-co, cu-co (não se altere com as sílabas, romulo!) que me lembra os bosques às margens do Volga...oh, saudade...

http://www.rspb.org.uk/wildlife/birdguide/name/c/cuckoo/index.asp

filipei damov

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Camarada Damov! Vossamercê, porraqui?! Red congrats! Seja bem vindo. Puxe uma cadeira e descanse essa poupança.

Olha, meu caro Felipe, ouvir o cuco é mesmo uma coisa que só a beira do velho Volga é possível. Rômulo está proíbido de escutar o canto desse pássaro, sob pena de cometer passarofelia. Rss

A proposito, quando poderemos desfrutar de uma nova crônica ou poesia em seu chatô?

ITAJAHYSTORIAS disse...

Ae Caro HElinho! Parabéns pelo sucesso ae em Smapa! Também sentimos este êxtase na vernissage em pleno Jardim Europa do Sorriso Exterior. Então viste a Expo do Insolit Angle Combo by FOz do Itajaí-Açu...Que legal! Viajou em nossa HQ tamanho família? Espero que tenha gostado...

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Ora, ora, meu caro Rafa, claro que gostei, meu! É pena que não pude tirar uma foto ao lado "da mais bonita tela" ( a que tem impresso os fundo de garrafa), segundo a secretária que me atendeu. Eu tinha levado a câmera com a bateria errada. Coisa de idiota, né mesmo? Todavia, fiquei orgulhoso por ser amigo dos insólitos autores! Hahaha!

Parabéns!

Anônimo disse...

forte, vibrante, sulfúrico... realmente nêgo, apavorasse!

senti pela primeira vez agonia de terminar logo o texto. doida essa sensação.

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Kenzo, gostei dos adjetivos, principalmente, o sulfúrico. Procurei ser o mais corrosivo possível de modo que provocasse rombos na consciências alheias.

O fato de querer terminar logo a leitura, pode ser um dúbio desejo: terminar por estar chato ou terminar por ter sido atingido pelo dardo da introversão que o escrito provocou. rsss

Anônimo disse...

ah, uma hora algo nasce naquela tragédia de blog...rs

filipei damov

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Camarada Damov, diga-me lá, o que nasce naquela tragédia de blog?