Eu gostaria de falar de algumas das minhas experiências no que
diz respeito a essa paixão nacional que é o futebol.
Quando era menino, até que me interessava por futebol, mas hoje,
não mais. Mesmo naquela época, eu não tinha tanto entusiasmo por esse esporte quanto os outros garotos de minha
idade. Mas de uma coisa eu sempre soube: eu era um excelente, magnífico e
estupendo perna-de-pau. Nunca era escolhido para os rachas no colégio. Uma
lástima, portanto.
Eu torço pelo Santa Cruz Futebol Clube desde que me conheço
por gente. O Santa é um time de futebol de Recife, que nasceu em 03 de Fevereiro de
1914 no Pátio da Igreja de Santa Cruz, no bairro da Boa Vista. Depois, nos anos
40, seguiu para o bairro do Arruda onde sua sede e seu estádio estão até hoje.
Sua mascote é a cobra coral. Só pra esclarecer: Todos lá em casa, menos minha
irmã mais velha, torciam pelo Santa, o tricolor (vermelho, branco e preto) de Recife. Ela era torcedora do Sport Club Recife, portanto a ovelha
(rubro)negra da família.
Fui criado
acompanhando futebol pelo rádio, junto ao meu pai; as vozes de Barbosa Filho,
Luiz Cavalcanti, Ivan Lima, Zé Santana, Jota Soares, entre outros locutores e
comentaristas, ressoavam pelas ondas da PRA 8, Rádio Jornal do Commércio, Radio
Olinda nas noites de quarta-feira e nas tarde de domingo. Foi mais crescido que fui levado, pela primeira
vez, para assistir a um jogo de futebol profissional. Foi no estádio Aldemar da
Costa Carvalho, do Sport, a Ilha do Retiro. Foram eu, meu tio que era Santa
Cruz doente e meus primos. Fomos assistir ao clássico entre Santa Cruz e Sport, que lá em Recife é chamado de Clássico das
Multidões, por se tratar do ajuntamento das duas maiores torcidas do Estado de
Pernambuco. Eu ia a jogos de futebol só
eventualmente. Mas foi em três ocasiões, que o futebol me marcaria com suas travas mágicas de sedução.
Sedução I - Givanildo X Pelé
A primeira foi na Ilha do Retiro, num jogo entre o Santa e o Santos Futebol
Clube de Santos, São Paulo em 1970. – acho que os céus estavam em pleno agito vendo
tanta santidade junta naquela tarde de domingo! Foi nesse jogo onde, pela primeira vez, eu vi,Pelé,
o rei do futebol, jogar. A presença desse jogador em campo me impressionou, não
só por suas jogadas magistrais, mas porque eu nunca tinha visto em minha vida,
um negro com aquela complexão física. Ele era perfeito. Os negros que eu
conhecia eram raquíticos ou mal
nutridos, nada parecidos com aquele homem, cujo
uniforme branco que trajava, lhe dava imponência, majestade e, portanto,
superioridade diante dos demais em campo.
- É sabido que Pelé não mede mais que um metro e setenta de altura, mas
ele parecia ter mais de dois metros. Um gigante! Uma perfeição da natureza; um
deus de ébano, como se costumava falar nas narrações rádio esportivas daquela
época. Porém, como nem tudo no mundo é
perfeito e por mais que me parecesse ao contrário, ao vê-lo de perto, num é que
aquele deus de ébano, aquele monumento de atleta foi parado por alguém que era o
avesso da forma perfeita representada por ele?! Pois é, esse avesso era um
jovem, nascido em Olinda, Pernambuco, cujo físico ficava entre a desnutrição e
a má formação óssea. Era como se a natureza tivesse lhe negado o direito a bacia, ou o que
chamamos de cintura, quadril. A cabeça e o corpo iam direto para as pernas!
Foi esse exemplar humano de tão pouca
exuberância física, portanto, quem levou
por terra a tese de que corpo perfeito era o máximo da perfeição atlética humana.
O nome do rapazinho franzino era Givanildo Oliveira, ou simplesmente Giva. Naquela
tarde, o garoto esquálido não deixou o rei do futebol jogar o que sabia. O perseguiu por todos os
cantos do campo, tal qual marido ciumento. Naquela tarde de domingo, o Santa
ganhou a partida e o Peito de Pombo – este era seu apelido - virou o
rei do Arruda. O único gol da
vitória foi de Luciano “Maravilha”. O menino de Olinda foi consagrar-se no
Sport Club Corinthians Paulista e, posteriormente, na seleção nacional. Hoje, Giva
é treinador de futebol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário