Acabei de ler as correspondências entre Sergio Faraco e
Mario Arregui, de 1981 a 1985, ano em que Mario Arregui morreu. Esse livro foi
um achado, pelo menos pra mim, que nunca havia lido esse tipo de trabalho. Aliás,
a iniciativa foi do filho de Arregui, Martín, que propôs a Faraco a publicação
das cartas. Este resistiu, pois, para ele, se tratava de uma coisa íntima,
pessoal, privada entre os dois, mas Martín terminou convencendo o contista
gaúcho do contrário. Ainda bem! Sairam, por fim, duas edições: em português e em
espanhol.
As cartas trocadas entre esses dois grandes narradores latino-americanos,
um uruguaio e outro brasileiro, são de uma tal honestidade e simplicidade, que
nos faz tirar a impressão de que todo literato é arrogante, inflexível. Essa
impressão é desmontada quando os vemos confabulando pormenores narrativos de
suas criações, acertos e críticas mútuas, mas, e acima de tudo, os dois carregados
de generosidade em suas propostas e tendo como base a literatura. Além disso,
os dois falam de família, amigos, política, desejos, sonhos, defeitos e, sobretudo, o amor
pela literatura. Mesmo sabendo o desfecho final dessa amizade breve,com a morte
Arregui, consumi o livro com voracidade, não para saber detalhes sobre a morte
do contista uruguaio, mas para conhecer os caminhos que fizeram esses dois
homens, com quase os mesmos predicados e defeitos, se doarem, ao longo de quatro
anos, na empreitada que foi a tradução e organização do livro ”Cavalos do
amanhecer”. Essa amizade de quatro anos cravou-se para sempre em seus corações
como os punhais das narrativas campeiras dos dois autores. A leitura de “Correspondência
–Mario Arregui & Sergio Faraco – Diálogos sem Fronteiras, L&PM Editores
- 2009”, é um aprendizado, sem dúvida.
Depois de ter lido “Cavalos do amanhecer”, ficou mais fácil
entender as personalidades do autor e de seu tradutor. Se um dia eu tivesse
algum trabalho de relevância literária e quisessem me traduzir, gostaria de ter
um tradutor com o empenho, a sinceridade, a firmeza e criatividade de Sergio
Faraco.
Outro fato relevante desse livro é que Arregui e Faraco nos
oferecem um catatau de nomes e obras que já pagaria a leitura do livro por essa
dica involuntária. Eu, por exemplo, fiz uma pequena lista de autores de língua
hispânica a partir dessas informações contidas no “Diálogo sem Fronteiras”. Me
propus a ler os mesmos o quanto antes. Já conheço Borges, Cortázar, Galeano,
Márquez, Llosa, agora Arregui, mas ainda faltam muitos outros nomes de autores que
a dupla nos fornecem através de suas missivas. Também chama a atenção nesse
livro de correspondências quando os dois
falam criticamente dos editores. Há momentos de reserva, mas, também, de
impaciência com eles, o que temos que observar, para não criarmos imagens muito
positivas dessa espécie tão especial do reino literário.
Por fim, depois desse livro, de suas dicas e preciosas lições
de vida, não sei como vou dar conta de tanta leitura, já que, ao mesmo tempo, tenho
que escrever os ajustes finais de meu livro, (que será o quarto), com o título provisório
“A Noiva do Porto”. O lançamento gostaria que fosse por volta de abril de 2013,
depois, é claro, de “Malvadeza Durão”. Ufa!
Nenhum comentário:
Postar um comentário