domingo, 30 de novembro de 2008

O último Chinese Noodles de Ozne o roqueiro drogado de New York












O ÚLTIMO CHINESE NOODLES DE OZNE
O ROQUEIRO DROGADO DE NEW YORK
Por Hélio Jorge Cordeiro

Fazia muito frio aquela noite, daqueles de cortar o próprio frio. Ao longo da avenida, dos bueiros, iguais àquele onde, certa vez, num de seus filmes, a loira sex simbol dos americanos, Marilyn Monroe, esquentara a calcinha, saíam vapores quentes que mais pareciam vindos de chaleiras ensandecidas.

Simon levantara-se cedo. Aquele seria o dia D de sua vida. Iria assistir ao show do grande Ozne! Olhou para o caderninho de telefones e não encontrou nenhuma companhia para ir com ele ao evento. Lá, no caderno, só números de pizzas deliveries. Suspirou, lamentando seu isolamento.

Simon Irvine tinha tudo que se relacionava com o roqueiro mais drogado da história do rock: todos os discos; todos os bottons; todas as revistas e uma relíquia:... Uma camiseta surrada e ainda com marcas de vômito do roqueiro. Nela, estava estampada a figura de Ozne Kubenkian, descabelado e com os olhos saltados para fora e estava escrito  o seguinte: “I LOVE OVERDOSE MOM!” Simon havia pagado uma grana preta pela camiseta. Empenhara todas as suas economias de um ano de trabalho duro no restaurante do velho Shao Zin-Zong, na Canal Street com a Mulberry Street. Simon entregava chinese noodles por toda Nova York. Agora, ele queria que o astro a autografasse a suja e surrada camiseta.

Tudo pronto. Simon respirou fundo, deixou seu pequeno quarto numa pensão para jovens que trabalhavam part-time e ganhou a rua, se equilibrando em sua bike em direção ao Teatro Phenix, na 47th Street West com a 8th Avenue.

Tempos depois, Simon chegou, finalmente, ao Phenix. Ele foi direto para o beco ao lado oposto da entrada do teatro que, muitos anos antes, havia recebido Fred Aster, Ginger Rogers, Bob Hope e tantos outros, sempre com sucesso; A velha casa de shows iria se transformar em uma igreja evangélica. O show de Ozne seria o último espetáculo da história do velho teatro.

Simon encostou a bike. Três bichanos pularam de dentro de uma caçamba de lixo, apavorados com a sua presença. Simon trancou a bike com um velho cadeado que ganhara de sua avó Jezebel e que fora um suvenir do primeiro furto de seu avô Elijah. O velho cumpria prisão por venda ilegal de whisky lá no Alabama.

Simon se dirigiu à frente do teatro. Estava lotado. Logo o  roqueiro chegou à rua principal, foi ovacionado com gritinhos histéricos de garotas e rapazes que se amontoavam em frente à entrada da casa de espetáculo: Ozne!
Ozne! Ozne.

Com muito esforço, Simon tentou se aproximar. – My godness! It is him!
Ozne vinha ladeado por enormes seguranças. Simon avançou para falar com ele, mas o roqueiro o repeliu, jogando-o nos braços dos brutamontes que o protegiam. Os guarda-roupas deram-lhe um safanão, jogando-o em cima de Lucy Catisallright, uma mocinha que tinha vindo do Alabama para assistir ao show.

Os dois caíram estatelados do outro lado da calçada, batendo suas cabeças no guard-rail que protegia a esquina do edifício. Ambos desmaiaram!
Em menos de 15 a 20 minutos, todos que estavam do lado de fora do teatro, haviam entrado para assistir a imperdível apresentação do roqueiro drogado.

A entrada já havia sido trancada e ninguém entrava mais no teatro. Agora, restava apenas o vento frio e cortante do inverno, que chagara mais cedo à cidade, espalhando os panfletos do show, inclusive, os dois ingressos de Simon e de Lucy. Os dois jovens, ainda atordoados pela pancada recebida, logo se deram conta de que o show havia acabado para eles.

Sentados no chão da esquina do teatro, desolados e tristes, um olhou para o outro e se apresentaram: - I’m Simon. – I’m Lucy from Alabama.
Oh my goodness, my granny and my grandfather live in Alabama!

Três horas mais tarde, Lucy e Simon estavam exaustos, depois de uma sessão de sexo, pizza e muita coca-cola.

Lá embaixo, num velho tonel, perto da entrada da pensão, tudo que Simon juntara sobre Ozne Kubenkian, ardia no fogo, inclusive a camiseta que dizia: I LOVE ORVERDOSE MOM.

Lucy voltou pro Alabama, levando uma cartinha de Simon para seus avós, dizendo que logo que pudesse ele voltaria pra lá.

Ozne morreria dois dias após o show, vitimado, segundo as autoridades, por uma longa sessão de orgia e, também, por ingestão de chinese noodles que, segundo a perícia policial, estava envenenado.

Não muito depois desse trágico evento para o rock mundial, Simon viajou para o Alabama, para junto de seus avós e, é claro, para ficar com Lucy Catisallright. Ele nunca mais voltou a entregar chinese noodles em Nova Iorque.

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