sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Chovendo no molhado





























"ONDE O DIABO PERDEU AS BOTAS" OXIGENA A LITERATURA EM ITAJAÍ

Por José Isaías Venera – Jornalista SC 01522 JP

Hélio Jorge Cordeiro é um narrador. Um escritor que não se furta em evidenciar histórias de personagens quase inumanos. Mas tão comuns nos “causos” apresentados em rodas de diálogos, principalmente nas cidades interioranas desse país afora. Assim é “Onde o diabo perdeu as botas”, livro desse pernambucano que oxigena a literatura em Itajaí, cidade onde escolheu morar. A obra será lançada no próximo dia 13 de agosto, às 20h30, na Livraria e Editora Casa Aberta, ao lado da Caixa Econômica Federal, na Rua Lauro Müller, n. 83, nesta cidade portuária.
Michel Foucault, um autor Francês que refletia sobre a própria natureza da literatura, entendia que a sua potência estava justamente na sua exterioridade. Ou seja, na realidade que se podia criar por meio da literatura sem a qual não existiria. Assim, literatura pode ser compreendida como um fazer existir aquilo que nossa percepção cotidiana não conseguiria visualizar. Mas o que dizer das histórias deste livro “Onde o diabo perdeu as botas”, como a de Nozinho Albuquerque, tão comum em outros tempos e lugares, mas hoje exótica? Seria como um fazer voltar a existir o que era comum, sobretudo, na tradição oral.
Nozinho não é só uma personagem. É a continuação de uma tradição literária cada vez mais rara de se ler, ouvir, sentir. Inumano, fadado ao esquecimento por uma civilização demasiadamente humana, interessada mais no realismo direto e objetivo das narrativas jornalísticas, que noticiam acontecimentos de forma imperativa e julgadora, deixando sempre no limbo o que há de mais natural da vida: o imprevisível, o erro, o pecado, o gozo.


“Diziam que ele tinha sido amaldiçoado por uma mulher, ainda quando estava no ventre de sua mãe”. Pouca sorte desgraça não falta a Nozinho, tão ambíguo quanto o lugar: Cruzeiro da Bahia, em Minas Gerais.

Assim inicia o livro de Hélio, ao apresentar os mitos de fundação da pequena cidadela Cruzeiro da Bahia. Lugar onde um morador ao ser amaldiçoada, funda também uma espécie de pacto da cidade com o sobrenatural. Essa abertura do livro é uma nova versão de arquétipos do bem e do mal, presentes nas histórias de todas as civilizações. Nestes casos há, sempre, uma batalha sendo travada e alimentada pelo sobrenatural.
A impressão que se tem é que o equilíbrio da vida, sobretudo psíquica, depende de um certo misticismo e de reconhecimento das histórias dos ancestrais.
Negar o passado, por mais inumano que possa parecer, é também provocar um desequilíbrio entre as forças antagônicas que regem a vida. E é partindo desta compreensão que o livro ganha corpo. A partir daí, é construída uma história do presente da cidade. Diferenças e intrigar políticas contagiam os moradores ao ponto de negar o passado sobrenatural da cidade. Uma realidade imunda é construída a partir das relações políticas e interesseiras. Pelo visto, o escritor procura mostrar que, ao negar o passado sobrenatural, a maldição veio em dobro, quando os personagens perdem também suas referências. Nozinho Albuquerque passa a ser, somente, nome de praça e de avenida.

Como se pode observar, essa literatura é como um desses filmes inteligentes, que misturam temporalidades. Além disso, não faltam personagens com nomes sugestivos e que funcionam na história como gotas de vinho tinto e seco que faz saltar qualquer sabor no paladar do mais apático leitor. É o caso de Armando, o prefeito, Kruguer, o padre, e Orfeu, um peludo homem que mais parecia um cachorro; braço direito do prefeito. E como em toda cidade, salpicam boatos, como a de que comunista come criancinha. Ora, sobram similitudes das intrigas políticas com as que se observa no lado de cá da vida. Quanto mais a Cruzeiro da Bahia se distancia de seu passado sobrenatural, mas as relação sociais ficam resumida a interesses individuais. Dessa forma, o livro traz uma discussão bem presente e que incomoda a todos.
É preciso ler o livro, essa história dividida entre os diálogos e as narrativas, num texto leve, em certo momento irônico e sem abusar de metáforas. Aliás, metáforas talvez seja o que há de mais difícil na literatura, como costumava dizer o escritor argentino Jorge Luiz Borges.

5 comentários:

Dé Costa disse...
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Dé Costa disse...

Que Pena! Confesso ter entrado aqui na expectativa de encontrar alguma crítica positiva a respeito do novo livro e me deparei com essa lástima. Realmente é uma pena saber que o lançamento do segundo livro foi cancelado. Espero que marquem o lançamento o mais breve possível. Estou ansioso para conferir a obra. Sucesso e um abraço a todos!!!

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Pois, é Dé Costa, vamos ver o que faremos agora. Até lá, vou continuando com a vidinha como se nada tivesse acontecido. Assim que eu tiver uma data, farei o maior estardalhaço, pode acreditar. rsss

Abração
Hélio

José Isaías Venera disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Isaías Venera disse...

Depois de tanto tempo, me deparo novamente com o texto que eu mesmo escrevi. O texto não é uma crítica, apenas algumas impressões, no qual considera que repetir, ou afirmar o que já foi dito, é um movimento inútil. Além do mais, é uma leitura de quem gostou muito do livro do Hélio. Assim, entendo a resistência de Dé Costa ao deixar claro que não gostou do meu o texto, sendo que o primeiro movimento foi de ter resistência com o diferente, mas as palavras usadas demonstram sua dificuldade de ler e buscar entender o que foi dito.