quarta-feira, 16 de julho de 2008

Eterna Insônia

Aqui vai mais um continho de minha autoria, para distrair os incautos e distraídos que por um acaso passarem pelo meu blog.


ETERNA INSÔNIA
Já era quase meia noite e eu não conseguia dormir. Fui à cozinha e tomei um pouco de café requentado. Enchi meia caneca. Um exagero, eu sei, mas eu sempre fiz isso em toda a minha vida. Exagerei em tudo que fiz.

Vaguei pelo pequeno apartamento por mais uns vinte minutos até que decidi sair. Peguei um maço cheio de cigarros. Iria fumá-los todos! Já disse, sou mesmo um exagerado. Fechei a porta atrás de mim e fui até o elevador. Apertei o botão da subida. Não demorou, começou um barulho mecânico; era o elevador se movimentando dentro de sua ruazinha vertical, em direção ao meu chamado. Obediência é isso! – pensei rindo.

Finalmente, depois de alguns segundos, ele chegou; sua porta abriu-se e logo escutei uma musiquinha: "I'll Never Fall In Love Again". Era Burt Bacharach! Não sei por que me deu uma grande vontade de arrancar os alto-falantes do teto, mas refreie meu instinto depredador. A porta fechou-se; apertei o botão do terraço; ele deu um pequeno solavanco e começou a subir. Resolvi esquecer a música. Aproveitei pra acender um cigarro enquanto olhava pra plaqueta onde estava escrito: “Proibido fumar!”. Foda-se! – disse alto.

O cubículo, finalmente, chegou ao andar que antecedia o terraço. Sai, não sem antes, só, de sacanagem, dar um longo trago no maldito e jogar uma baforada digna de qualquer tribo de índios norte-americana mandando mensagem, no elevador que foi tomado de uma densa névoa tóxica. Em seguida, a porta fechou-se em minha frente. O caixote desceu a procura de quem que o havia chamado. Esperei que não fosse um fumante, mas um desses chatos que não suporta cigarros! Ri-me pra valer, só em pensar nessa possibilidade. Eu sou mesmo um canalha.

Passei por um pequeno corredor que ia dar numa escada de ferro. Subi e cheguei num pequeno platô onde uma porta de ferro me encarou. Abri-a e uma lufada de vento me deu boas vindas ao terraço.

Uma pequena iluminação fazia um oásis logo na saída, porém mais a frente, tudo mais estava no escuro. - Porra! - exclamei. Esta foi minha reação alguns passos depois de chegar ao terraço, quando alguns pombos farfalharam suas asas em alvoroço com a minha presença.
Fora esse entrevero, o silêncio era figura dominante naquele lugar. Aproximei-me da beirada do edifício e deslumbrei a cidade ao meu redor; silenciosa. "Todos estão dormindo! Porra! Eles dormindo e eu aqui acordado!” - eu disse, com uma pitada de despeito.

Decidi acender mais um cigarro no toco do anterior. Já disse, sou mesmo um sujeito exagerado. Dei uma tragada e decidi sentar na beirada da mureta, cuja proteção para o espaço vazio a minha frente, eram dois arames pregados na cabeça de uma coluna . Eles se estendiam por quinze metros a frente. Depois os dois iam se encontrar novamente, pregados lado a lado, em outra mureta.

Sentei e estirei os pés. Logo decidi pensar no que, a partir dali, eu ia pensar. O que seria mais apropriado pensar para aquele momento? Pensar de quando eu era criança? Não, um lugar comum e muito chato. Pensar de quando eu era um rapazinho? Nem pensar, tempos horrorosos aqueles! Quem sabe de quando eu conheci Neuza? Puta merda! Num tem nada melhor pra pensar não, porra? Ai eu achei que seria melhor pensar na vizinha de prédio em frente. Aquela jovem que parecia ser escritora, jornalista ou quem sabe poetisa.
Isso sim é que foi uma boa escolha! Dali dava para ver a janela de seu apartamento, mas num ângulo totalmente desfavorável pra uma olhada cheia de má intenção. Dali, eu não poderia jamais vela dentro de casa só de calcinha e usando um par de óculos; aliás, os óculos a deixava extremamente sensual. Eles combinavam com os seus seios; dois melõezinhos duros e empinados. Essas imagens congelaram por mais alguns segundos em minha cabeçinha lasciva. Um sorriso involuntário nasceu de repente. Ajeitei-me pra ficar mais confortável e pendi pro lado dos dois arames de proteção. Eles, os arames, pareciam que se entre olhavam. Eles voltaram-se pra mim com sorrisinhos bem safados e começaram a se desprenderem. Como num filme em câmara lenta, eles se libertaram da prisão e se juntaram numa sacanagem jamais vista. Filhos das putas! Frouxos! Eu balbuciei. Não tive mais tempo de me agarrar a nada e pendi definitivamente na direção do espaço vazio. Despenquei do décimo quinto andar em direção a um canteiro recém plantado com margaridas brancas. Não demoraria muito e eu estaria fazendo parte dos anúncios fúnebres do jornal do dia seguinte. Só que, não se sabe de onde, surgiu uma mão forte e segurou-me com firmeza a quase meio metro no vazio. Meu corpo balançou como um pêndulo - de lá pra cá e daqui pra lá - até que um grande puxão me jogou de volta ao terraço. Cai com todo o meu peso, como um saco de batatas baroas jogado no fundo do armazém.

Era o vizinho do décimo andar, dono do pombal. Olhei pra ele e não soube o que dizer. O sujeito sorriu e me disse: “Ei, cara, tu quase se fodeu! Cuidado, né?!" Em seguida, ele foi cuidar de seus pombos, me deixando ali prostrado, sentado no chão sem saber o que fazer.

Refeito do susto, voltei pro meu apartamento e desabei como uma pedra em minha cama. Dormi profundamente. Nunca tinha dormido por tanto tempo. Tempo suficiente até pra sonhar profundo. E sonhei que me casava com o sujeito dono do pombal! Eu estava linda, radiante; pombos de varias cores e tamanhos voavam sobre mim, numa alegoria digna do paraíso do éden ou desenho de Walt Disney. Havia margaridas brancas por todos os lados. Eu me casava de grinalda e o véu era longo. De repente, eu tropeçava e caia. Ah, o véu e a grinalda eram vermelhos! Vermelho sangue! Muito sangue! A calçada estava lavada de sangue, meu sangue! Uma queda de 15 andares!

2 comentários:

Anônimo disse...

Você com blog???

até que enfim!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Pois é, Enzô! Só que este foi financiado pela caixa, rapá! Hahaha!

Mi casa és su casa!