“Inconformados golpistas”
por Maria Helena Cordeiro
"Hoje, em um programa da ESPN, à espera do jogo do Brasil com
a África do Sul, assistimos a mais uma demonstração das ações da imprensa
golpista, porta voz de uma elite rançosa e rancorosa, que não se conforma com
as conquistas do povo brasileiro. Depois de um depoimento sensato, patriota e
democrático de Cafu, os maus brasileiros, vendilhões da pátria, não se
conformaram e exortaram a população a se manifestar nas ruas durante a Copa do
Mundo, em prole de agendas vagas e sem propostas concretas. As agendas ocultas
desses maus brasileiros se escondem por trás de um discurso pretensamente
democrático. É na Copa do Mundo que o povo pode dar maior visibilidade a suas
reivindicações. É verdade, mas, por acaso, estamos em um país em que as pessoas
não podem falar e se manifestar livremente? Quando vivíamos na ditadura, que
essa mesma elite nos impôs e da qual está tão saudosa, a única forma de
denunciarmos os problemas e de reivindicarmos nossos direitos era, justamente,
aproveitando os momentos em que o mundo olhava para nós, porque, nesses
momentos, tínhamos mais proteção e maior garantia de não sermos silenciados. Mas,
agora, não temos os sindicatos, associações, movimentos sociais, partidos
políticos, igrejas, todos se organizando e funcionando livremente, defendendo
as mais diversas posições, opiniões, crenças e bandeiras? A imprensa não fala o
que quer, até mesmo as mentiras escandalosas e as meias verdades que são
convenientes para as elites que a controlam, loucas para derrubarem os governos
eleitos democraticamente porque eles lhes limitam os privilégios? Então por que
precisamos usar justamente o momento em
que o país está sob os holofotes de todo o mundo, cheio de turistas, para irmos
para as ruas oportunizar que baderneiros e nazistas encapuzados criem um clima
de agitação e violência e passem para o mundo inteiro a imagem de um país e de
um povo violento, sem rumo e sem valores? Agora vamos agir como crianças que
aproveitam as idas a supermercados, shoppings e outros lugares públicos para
armarem birras e choradeiras, na esperança de que os pais, preocupados com a
imagem pública, lhes deem o que querem, seja justo ou não, esteja ou não dentro
de suas possibilidades? Quer dizer que, agora, pressão popular se faz por meio
de chantagem?
Todos nós sabemos que o nosso país tem inúmeros problemas,
que estão aí, escancarados, para todo o mundo ver. Afinal,são séculos de
opressão e de injustiça que temos que superar. Todos nós! Por isso, é claro que
todos devemos nos organizar para tentarmos resolver esses problemas. Denunciar
os malfeitos, lutar para preservar as conquistas e, sobretudo, para que sejam
aprovadas e implementadas políticas
públicas que garantam maior justiça social, é fundamental para construirmos um
país melhor para a grande maioria do povo (e não apenas para 5% de
privilegiados). Porém, a quem serve a criação de um clima de descontentamento,
de insegurança e de violência na Copa do Mundo? Por acaso alguém é ingênuo a
ponto de acreditar que grupos de baderneiros a serviço das elites mais
reacionárias, de corporações multinacionais e organizações escusas
estadunidenses não vão aproveitar qualquer manifestação pública para criar um
clima de instabilidade propício a golpes políticos? A quem serve a má recepção ou a rejeição aos
turistas? Quem ganha com os prejuízos imensos a toda a rede hoteleira e à
economia de um modo geral? Se os grandes (e até mesmo exagerados) investimentos
na Copa do Mundo não resultarem em uma melhoria na infraestrutura de nossas
cidades, na ampliação do número de empregos, na melhoria da rede hoteleira e da
infraestrutura turística, na maior visibilidade de nossas riquezas naturais e
culturais, de forma a atrair mais visitantes nos anos vindouros, então vamos
todos para a rua, vamos exigir a rigorosa prestação de contas, vamos lutar pela
punição dos culpados. O que ganhamos fazendo isso durante a Copa do Mundo, sem
mesmo termos, ainda, a dimensão dos impactos desses investimentos no futuro do país?"
(Maria Helena Cordeiro é professora no Mestrado em Educação da Universidade da Fronteira Sul, em Santa Catarina)
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