sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Recordando bem a propósito




 
















A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS PARA COMPRAR DROGAS

por Hélio Jorge Cordeiro

Jasmine tinha 15 anos. Abandonara o colégio sem terminar. Seus pais não a controlavam. Desistiram. Ficou por isso mesmo. Contudo, por um motivo, eles tinham orgulho dela: Jasmine gostava de ler.

Por onde passava, ela pegava revistas, jornais e, claro, livros e os levava para casa. Tinha uma senhora coleção de livros para uma jovem de sua idade: de Tolstoi a Saramago.

Jasmine gostava das baladas. Fazia de tudo para não perder uma. Não eram bailes funk, não; eram shows com Paralamas, Titãs e Engenheiros do Hawaii. Era claro o seu bom gosto.

Só tinha um senão: Ela, com aquela idade, já tinha experimentado maconha e, claro, ecstasy. Os dois lhes foram apresentados por Gabrito, um garotão que estudara com ela e com quem Jasmine tinha ficado uns tempos. Gabrito continuava a lhe fornecer a droga e, em troca, ganhava uma transa com Jasmine. Ela só era inflexível numa coisa: o uso de camisinha! “Ou bota camisinha ou não tem negócio!” - dizia ela com firmeza.

De repente, a vida de Jasmine deu uma guinada para a esquerda. Ela se viu sem seu pai, que morrera atropelado quando voltava do trabalho. Sua mãe teve que se arranjar como pôde e ela deixou de ganhar a mesada que sustentava, não só seus livros, como também a sua maconha e o ecstasy. A partir dali, tudo começou a desmoronar diante daqueles olhinhos castanhos e miúdos. Assim, não resistindo, ela resolveu continuar alimentando os mesmos caprichos. Começou a vender os seus livros. No início, não conseguia vendê-los com facilidade, mas depois pegou o jeito e logo não havia mais livros pra vender.

Sem ter mais de onde tirar o dinheiro pra drogas, ela resolveu roubar livros. Primeiro, ela os lia e depois os vendia. Não tinha livraria que a intimidasse. Qualquer uma poderia ser uma vítima em potencial. Só que, depois de um tempo, passou a ser visada pelos seguranças. Um dia, ela foi pega com três lançamentos embaixo da blusa e foi presa.

Jasmine foi para a antiga FEBEM, para desgosto de sua mãe, que chorou muito.

Na entidade, logo ganhou a simpatia de todos. Da noite pro dia, ela montou uma pequena biblioteca. E começou a influenciar suas colegas a tomarem gosto pela leitura. Conseguiu.

Quando Jasmine, finalmente, deixou a casa de correção, decidiu escrever um livro que contasse sua experiência de vida. Ela mesma o intitulou de: “A menina que roubava livros para comprar drogas”.

O livro vendeu que nem banana em feira. Com a grana das vendas, ela mudou de vida, para felicidade de sua mãe... Bem, nem tanto assim: não deixou de fumar maconha, nem de tomar ecstasy ou, muito menos, de afanar uns livrinhos de vez em quando.

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