sábado, 20 de dezembro de 2008

The grandstand




















THE GRANDSTAND

Ele deixou a porta aberta e ela entrou. Seria pra sempre, pensava ele, mas ela nem tanto.

Calou-se e não recitou uma palavra sequer de nenhum de seus versos, para não cair em tentação, outra vez.

Ela procurou suas meias em meio ao escuro, sem sucesso. Suas meias ele havia queimado na luz do sol, esse abajur silencioso que a todos queima e cuja idolatria ele se subjugava.

Daquele dia, restara apenas um travesseiro manchado de vinho, - ou era sangue? - e a voz dela a dizer-lhe coisas que só os tolos poetas dizem, sem querer dizer, pois as palavras que lhes saem, são como os touros arredios de Pamplona.

Não, ele não queria que lhe dissessem que ele não estava certo. Em algum momento, ela chegaria e lhe diria isso mesmo. Ela diria que queria a eles, outra vez: certos ou não, do jeito deles, mas ela queria os dois somente para ela.

Eles e ela novamente! Ele nem podia acreditar. Tudo voltou, inclusive, a torneira a jorrar na pia sem parar. Era um barulho surdo dos ratos, dançando nos dutos casa afora. Era, sem dúvida, uma melodia nada peculiar às noites de sexo que eles tiveram ao longo do tempo em que ficaram juntos pela primeira vez.

Agora, ele deixaria que os milhões de “Eus” jorrassem para dentro delas, das duas e, nunca mais, nenhuma latrina lhe mostraria o caminho de volta a sua ignóbil juventude, repleta de nãos, nãos e muitos talvez.

Ele já comprara os bilhetes e, agora, esperava que elas lhe desejassem sorte. Seria dada largada. Aquilo era mesmo um Grandstand.

A corrida iria começar. Este seria o terceiro páreo dos três. Era um para ele e dois para elas duas.

A cama, o lençol, a garrafa de vinho e muito, muito gemidos de gozo que ele sabia, o vento levaria por toda aquela noite para dentro dos ouvidos do mundinho hipócrita lá fora.

Quem sabe ele venceria por um corpo inteiro.

2 comentários:

mauro camargo disse...

onde vc anda rapaz?

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Aê, Mauro! Rapaz mil desculpas, pela ausência no lançamento do seu livro "Paris".

abração