terça-feira, 15 de outubro de 2013

Jacinta manda lembranças.




 

















 Meus queridos e queridas, está aqui uma lembraçinha lá dos idos de 2008, pra ôcês!

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O RIACHO DE JACINTA
por Hélio Jorge Cordeiro

Naquela manhã, como fazia desde menina, Jacinta foi se banhar nas águas do riacho perto da fazenda. Aquela não era uma manhã como as outras. Quando Jacinta se levantou para o desjejum, sentiu alguma coisa diferente em seu corpo. Uma coisa sobre a qual ela pensou falar com Joana, sua ama de leite, mas decidiu ficar em silêncio e experimentar, ela mesma, o que era aquilo. No seu entender juvenil, era uma estranha quentura a correr lhe por todo corpo e um gosto agridoce no céu da boca. Um gosto que lhe fazia salivar a todo instante. Deste modo, sentindo-se diferente, Jacinta saiu para o seu banho matinal. Ela ainda ouviu a velha Joana a dizer-lhe: “Num fica muito tempo n’água que tu resfria, moleca!”. Depois, Jacinta não ouviu mais nada, a não ser as batidas de seu coração ansioso por chegar ao lugar que mais lhe dava prazer: o riacho.

Finalmente, Jacinta chegou ao local. As margens do riacho eram todas cobertas por uma relva rala. Aqui e ali havia touceiras e touceiras de capim. As águas corriam mansas. Essa tranquilidade só era interrompida pelos vôos rasantes dos pássaros pescadores e pelos zigue-zagues que pairavam no ar, como pequenos narcisos alados a mirar-se nas águas do riacho. Vez por outra um peixe prateado subia à tona, como quem quer saber das novidades lá fora, e depois voltava ao seu mundinho.

Como sempre, Jacinta tirava o vestido pela cabeça. Ela não usava calcinhas e, muito menos, sutiã. Seu corpo de menina moça, parece que tinha sido esculpido a mão por um artesão que após terminar sua obra ficara cego como castigo para não ver sua obra prima.

Quando a cintura do vestido de chita passou pelos seus peitos, esses se empinaram e voltaram como se fossem de borracha. Eles pareciam frutos por amadurecer. Jacinta jogou o vestido na relva e correu até as águas, que a receberam de bom grado, o que também fariam os gajos da vizinhança, se tivessem os mesmos privilégios.

Jacinta afundou e depois ressurgiu como uma sereia à flor d’água. Seus cabelos castanhos, molhados, agora se tornaram negros e brilhantes refletindo a luz do sol escaldante daquela manhã. Jacinta chacoalhou-os de um lado ao outro, respingando água ao seu redor. Ela sorria alegre, esbanjando todo o viço das mulheres de sua idade. Os seus dois frutos quase maduros batiam sobre o lençol d’água causando marolas que partiam em todas as direções conclamando que ali estava a se banhar uma deusa.

Jacinta voltou para margem e deixou-se jogar sobre a relva. A oleosidade de sua tez impedia de absorver toda a água sobre o seu corpo no qual os pingos pareciam casinhas redondas de vidro, indo e vindo. Seus pentelhos, negros, lisos, sedosos, espalhavam-se sobre a sua vulva, deixando suas formas à mostra como se fosse uma moldura barroca.

Jacinta respirou fundo e fixou seus olhos castanhos, que mais pareciam dois seixinhos que ela havia tomado emprestados daquele riacho, mirando-os em direção ao céu anil. Alguns pássaros sobrevoavam em algazarra. Um macho saiu da formação e perseguindo uma fêmea, procurando acasalar em pleno voo.

Depois, Jacinta fechou os olhos como quem faz um pedido em pensamento. Levantou-se e correu outra vez para água, mergulhando tal qual um peixe. Quando ela subiu a flor d’água, tomou um susto ao ver olhando pra ela, um rapaz. Jacinta baixou-se até a água tocar-lhe o pescoço e depois o fitou sem medo.

Algo no moço lhe chamava a atenção. Ela não sabia bem se era o seu rosto diferente em forma de concha ou a sua pele, que brilhava sobre os raios de sol como se fosse feita toda de prata. Jacinta continuou mirando-o. Ele, por sua vez, aproximou-se dela devagar a olhando fixamente. Jacinta não se intimidou, muito pelo contrário até esboçou um sorriso. O rapaz correspondeu com outro sorriso e se aproximou mais, até que ficou a meio palmo de seu rosto. Jacinta não disse nada, apenas consentiu. Ninguém havia ficado tão perto dela assim. Quer dizer, apenas a Dengosa, a sua vaquinha de leite e o seu vira-lata Dudu, cujas lambidelas talvez fossem a causa de seu rosto liso e sedoso.

O moço então foi afundando devagarzinho na água. Jacinta esperou, deu um sorriso e voltou a esperar que ele retornasse à tona. Não demorou, ele emergiu, olho-a e voltou a afundar outra vez. Ele ficou um tempão em baixo d’água, tempo suficiente para que Jacinta desse um jeito nos seus longos cabelos, entrançando-os e jogando-os de lado. Depois ela esperou. Finalmente, o moço subiu, sorriu para ela com um sorriso que foi de um canto ao outro canto de sua boca estranha! Emitiu um som de quem parecia estar gargarejando água, sal e limão. Em seguida, o rapaz afundou forte por baixo de Jacinta, que deu um grito de prazer. Prazer esse que jamais ela experimentara em toda a sua vida. Deu mais outro grito e mais outro...

Assim foi por muitas manhãs de sol quente e céu limpo até um dia em que Jacinta saiu pro riacho e nunca mais ninguém soube de seu paradeiro.

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