Foto: Divulgação
Gente, olha só que bom artigo sobre a grande Hilda Hist que eu encontrei na Revista Grito:
Crítica: Fico Besta Quando Me Entendem – Entrevistas com Hilda Hilst
26 de
setembro de 2013, 01:56
Por Renata Arruda
Considerada maldita, pornográfica e hermética, Hilda Hist ainda luta por reconhecimento anos após sua morte
Hilda Hilst sofreu durante toda a sua carreira como poeta, dramaturga, cronista e romancista: suas peças não eram montadas, seus livros não eram distribuídos, sua poesia não era acessível; passavam-se os anos e sua obra ficava esquecida, não relançada. Até que já no fim de sua vida, e após apelar para o que a própria chamava de “bandalheira” ao escrever livros pornográficos para poder ser lida, Hilda pôde ver seus trabalhos serem lidos, através do relançamento de toda sua obra pela Globo Livros a partir de 2001. Vindo a morrer em 2004, Hilda penou durante toda a vida sendo obrigada a se dar conta de que só seria lida depois de morta – e ainda assim muitos desconhecem sua importância.
Por Renata Arruda
Considerada maldita, pornográfica e hermética, Hilda Hist ainda luta por reconhecimento anos após sua morte
Hilda Hilst sofreu durante toda a sua carreira como poeta, dramaturga, cronista e romancista: suas peças não eram montadas, seus livros não eram distribuídos, sua poesia não era acessível; passavam-se os anos e sua obra ficava esquecida, não relançada. Até que já no fim de sua vida, e após apelar para o que a própria chamava de “bandalheira” ao escrever livros pornográficos para poder ser lida, Hilda pôde ver seus trabalhos serem lidos, através do relançamento de toda sua obra pela Globo Livros a partir de 2001. Vindo a morrer em 2004, Hilda penou durante toda a vida sendo obrigada a se dar conta de que só seria lida depois de morta – e ainda assim muitos desconhecem sua importância.
Tida como
autora hermética, complexa e grotesca, a mais recente publicação Fico
Besta Quando Me Entendem – Entrevistas com Hilda Hilst, organizado por Cristiano
Diniz e lançado pelo selo Biblioteca Azul, busca dar voz a Hilda e desfazer
a fama de “escritora difícil” que tanto afastou o público. Em vinte entrevistas
(todas realizadas pessoalmente, assim escolhidas por opção de Diniz) que
abarcam cinquenta anos de carreira (1952 a 2002), testemunhamos uma Hilda ainda
jovem, confiante na qualidade do seu trabalho e na possibilidade de viver
deste, de tal forma que chegou a abandonar toda uma vida animada de eventos,
festas e encontros para se isolar no sítio que chamou de Casa do Sol – local
onde poderia receber amigos escritores, criar seus cachorros e se dedicar
integralmente `a escrita, que levava muito a sério.
Em
entrevista a Delmiro Gonçalves, publicada no Estado de São Paulo em
1975, ela comentou: “Quero ser lida em profundidade e não como distração,
porque não leio os outros para me distrair mas para compreender, para me
comunicar. Não quero ser distraída. Penso que é a última coisa que se devia
pedir a um escritor: novelinhas para ler no bonde, no carro, no avião. Parece
que as pessoas querem livrar-se assim de si mesmas, que têm medo da ideia, da
extensão metafísica de um texto, da pergunta, enfim” (p. 30). Com o passar do
tempo, Hilda começa a reclamar de editores que não distribuem devidamente seus
livros (“parece que ele não quer que ninguém me leia. jamais encontro meus
livros em livrarias”) e outros como Luiz Schwarcz que, segundo ela, deixavam de
investir em literatura de qualidade para investir 3 milhões de Cruzeiros em um
livro de Bruna Lombardi, considerada por Hilda “uma marca”.
Uma
dessas entrevistas chegou inclusive a causar mal estar entre Hilda e Caio
Fernando Abreu, seu amigo, ao declarar que “não que ela [Bruna] não mereça
esse dinheiro, mas é um absurdo o sr. Schwarcz deixar um escritor que ele
edita, como é o caso de Caio Fernando Abreu, lavar pratos em Londres porque
aqui o trabalho dele é desprezado em detrimento dessa subliteratura” (p. 145).
A falta de papas na língua e da vontade de aparecer, circular e dar palestras,
talvez tenham contribuído ainda mais para o silêncio gerado em torno da sua
obra.
A autora
apelou para a pornografia, criando na verdade uma espécie de “pornô cult”, pela
inegável qualidade dos seus textos que em nada devem a uma tal “boa
literatura”, e ficou carimbada no senso comum como autora obscena, maldita,
em detrimento de toda a sua obra anterior, complexa e de cunho filosófico.
Ainda assim, Hilda continuou desconhecida do público, sem dinheiro para pagar
suas contas e passou a se conformar em ser uma autora para poucos. Até desistir
completamente de escrever. Ao anunciar sua aposentadoria para a Folha
de São Paulo, em 1999, ela declarou: “Ninguém me lê, nesses quase cinquenta
anos foi assim, e me descobriram só agora, que estou quase morrendo. Eu ouço
dizer muito que as pessoas não me entendem, e quando alguém me entende eu fico
besta”(p.184).
Em um
belo trabalho editorial, trazendo uma charmosa edição ilustrada com desenhos da
própria Hilda, Fico Besta Quando Me Entendem faz jus à sua obra,
servindo tanto como um apêndice para iniciados quanto como introdução para os
curiosos, que irão se divertir e se aprofundar no brilhantismo bem humorado de
uma autora que mesmo colocada no patamar de Guimarães Rosa e Clarice Lispector,
ainda há quem desconheça seus escritos.
FICO
BESTA QUANDO ME ENTENDEM – Entrevistas com Hilda Hilst
[Editora Biblioteca Azul/Globo Livros, 242 páginas / 2013]
Organizador: Cristiano Diniz
[Editora Biblioteca Azul/Globo Livros, 242 páginas / 2013]
Organizador: Cristiano Diniz
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