sábado, 6 de agosto de 2011
Coisas da China
Coisas da China
No Norte da China, havia três majestosas montanhas. Todas as três muito verdejantes. As três salpicadas, aqui e ali, de branco e rosa pelas flores das cerejeiras e das magnólias.
No sopé de uma delas, conhecida como Mezanino de Deus, onde touceiras de bambuzais se moviam, de um lado para o outro, como aplicados dançarinos embalados ao som melodioso do vento, havia um riacho de águas límpidas, que corria lentamente, vale abaixo, como uma serpente prateada e preguiçosa. Na margem direita, erguia-se um pequeno mosteiro budista, em cujo jardim interno, conversavam o mestre e seu pupilo.
- Mestre Zu, eu quero encontrar a sabedoria. – disse Hua, como que entoando uma melodia suave de uma flauta feita de bambu.
- Vai, caminha até ela. – respondeu o mestre Zu, sem mexer um só músculo da face e cujas palavras saíam de sua boca sem dentes, como uma brisa primaveril.
- Mas eu não tenho pernas. – respondeu Hua, mantendo-se cabisbaixo, observando as formiguinhas indo e vindo de um resto chupado de kiwi.
- Então usa tuas mãos. – disse o mestre Zu, recolhendo as suas nas mangas largas de sua veste laranja e roxa.
- Mas eu não tenho mãos, mestre. – falou Hua, como uma borboleta que quer deixar o casulo e não consegue por estar ainda cedo para alçar vôo.
- Rasteja, então. – disse o mestre, agora levitando acima do canteiro de pelargônios.
- Rastejar, eu não sei, mestre. – respondeu entristecido, o pupilo, agora elevando o olhar para o topo do telhado do pequeno mosteiro, onde dois rouxinóis se acasalavam.
- Como queres, então, encontrar a sabedoria se nem rastejar tu sabes, ainda. – falou o mestre flutuando até o prédio principal do mosteiro e desaparecendo no breu dos corredores.
Hua encolheu-se e permaneceu ali, entre os pelargônios, até o dia em que brotou do jovem pupilo uma flor viçosa e muito rosa.
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