quinta-feira, 22 de julho de 2010
Dignidade
Dignidade
A porta da sala se abriu. Eduarda entrou. Esguia, cabelos castanhos claros curtos; olhos da mesma tonalidade. No adágio popular Eduarda seria taxada de ”gostosona”. Jogou a bolsa e as chaves sobre o sofá e foi até a copa. Sentou-se à mesa. Perecia tensa, quem sabe cansada por um dia longo e extenuante no trabalho. Pedro, que estava limpando um Tauros 45, aproximou-se dela e a beijou na cabeça e falou - Dei um chega pra lá no Agustinho. Ele quis revidar e eu quebrei dois dentes frontais do filho da puta. Esse num vai mais encher o meu saco. Pedro deixou a arma na gaveta da estante e voltou para a mesa. Ele era bem malhado pra idade. O cabelo mal escondia uma careca atrás da cabeça. A barba por fazer era a única coisa que lhe dava um ar um tanto grosseiro. - Então, Duda, como foi hoje lá no trabalho? Eduarda ajeitou-se na cadeira. - Pedrinho, é melhor você se sentar... Pedro que estava arrumando os acessórios para o jantar, olhou-a com surpresa. - Tá, bem... Eduarda abriu um pouco a blusa querendo se refrescar e começou: - Voltando para casa, decidi que você deveria ficar a par do que aconteceu hoje lá no trabalho... Pedro esfregando as mãos falou. - Que novidade é essa? Todo santo dia você fala do trabalho... Eduarda passou a mão pelos cabelos. - Mas hoje é bem diferente. Pedro tentou ficar confortável na cadeira. - Tá, então manda... Eduarda olhou para o marido bem no fundo dos olhos, para que o mesmo não tivesse nenhuma dúvida sobre o que ela relataria. - Como você está vendo fui trabalhar com essa blusa de cambraia de mangas curtas e esta saia de veludo cotelê. Quando cheguei à empresa, fui direto pra cozinha, como sempre faço para pegar o meu chá verde que dona Marilda, a servente, costuma fazer pra mim. Pedro inclinou-se um pouco pra frente – Afinal ela melhorou daquela queda? - Anhá. Ela já está bem melhor. Quer dizer, ainda está usando os espartilhos para ajustar a coluna. - Ah, inda bem. Eduarda prosseguiu. - Bom, eu peguei a minha caneca de chá e fui direto despachar com Fabrício. O tal que assumiu o departamento... Aquele lá de Chapecó, que eu lhe falei. Bom, entrei peguei o laptop dele e comecei a escrever uma minuta para o departamento de marketing. Fabrício costuma ficar andando de um lado pro outro enquanto dita e, numa dessa idas e vindas, ele enlaçou os seus braços pelo meu pescoço, detrás de mim, enfiando as duas mãos por dentro de meu sutiã... Pedro aprumou o corpo na cadeira... - Eu senti o calor das palmas de suas mãos esquentarem os meus mamilos que, logo, começaram a enrijecer... Pedro desencostou-se do espaldar da cadeira e se empinou pra frente, debruçando os braços sobre a mesa... - Eu, imediatamente, me virei e disse para Fabrício que ele estava acostumado a comer as outras funcionárias do departamento, sempre que lhe apetecesse, a troco de uma comissão ali, uma promoção acolá e até mesmo um perfume estrangeiro, mas que comigo a coisa era outra. Pedro levantou-se e se dirigiu pra cozinha... - Você está me escutando, Pedro? - Sim... – disse ele lá de dentro da cozinha. - Pois bem, Fabrício ficou estatelado a me olhar, enquanto eu falava... Eu continuei: Saiba que não sou nenhuma delas, Fabrício. Além do mais, eu amo o meu marido e sou fiel a ele! Sendo assim, decidi que vou satisfazer sua curiosidade, dando-lhe agora... Pedro apareceu na porta da cozinha, empunhando uma faca... Eduarda continuou. Nem tomou conhecimento que Pedro ficara parado no portal que separava a copa da cozinha. - Retirei a blusa, a pus sobre a cadeira em frente ao birô de Fabrício, o mesmo fiz com o sutiã, a saia e por fim, a minha calcinha, com gostinho de framboesa, que você me deu de aniversário. Deixe-me ficar apenas com os sapatos altos. Você não vai acreditar, mas Fabrício, apenas abriu a braguilha e tirou o pau dele pra fora. O desgraçado não fez um esforço sequer! Pedro aproximou-se devagar, escutando, com atenção, tudo que sua esposa lhe narrava... - Eu sentei no birô dele levantei as pernas e ele penetrou-me com sofreguidão, de um jeito que nunca eu havia visto, nem nos tempos em que eu namorava o Beto, lembra do Beto, não lembra? Pois bem, Fabrício não demorou e logo gozou. Pra não dizer que ele não teve trabalho, o desgraçado correu pra pegar um pacote de toalha de papel que havia sobre o armário de pastas com as propostas de compra de nossos clientes preferenciais, e voltou para mim, me dando algumas folhas. Estanquei todo o esperma que escorria e olhei pra ele, olho no olho e disse que aquela era a primeira e última vez, pois ele jamais poderia me confundir com as outras mulheres da empresa. Umas verdadeiras putas. Vesti minha roupa e continuamos a trabalhar no material que íamos mandar pro pessoal do marketing, como se nada houvesse acontecido... Pedro aproximou-se de Eduarda, com a faca em punho, baixou-se e lhe beijou a cabeça como fizera quando ela chegou e sentou-se à mesa. Ele foi pro lugar dele, sentou-se e começou a destrinchar um pernil que comprara na promoção do dia, deu um leve sorriso e exclamou: - Isso é que é ter dignidade! Parabéns, querida!
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4 comentários:
Mulheres dignas assim estão raras... ou melhor, não... quer dizer, não sei...
em todo caso, passa pro Agustinho meu telefone...ele tá precisando de um dentista.
hehehehe! Passo sim, aliás,cê é um endodontista da maior qualidade!
viva a liberdade de escrita... ainda maior que a de falar, até pq as palavras faladas têm a vida medida na distância que se extinguem, e na qualidade da memória que as absorve. A escrita fica, testemunha real do que sentimos, somos, e pensamos.
Putzgrila!
PS:
Era asim a exclamação máxima dos anos setenta.
PS2: è por essas e por outras que eu daria a boca pra esse cara! rsrsrs
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