quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

?Olá, que tal?

















Pois é, foi a frase que mais escutei o tempo todo por onde eu andava na terra de Jorge Luís Borges, Maradona e Evita Duarte Perón. Assim, foi também, em terras “uruguajas”, sobre as quais falarei em outro tópico.

Nunca havia eu viajado além das nossas fronteiras com os países da America do Sul. Pela primeira vez, pude ver a nós mesmos brasileiros, como se fosse através de um espelho, com apenas umas pequenas diferenças, como a língua e a falta de um toque afro na tez. No mais, tudo tem a ver com a gente. Na realidade, eu penso, fazemos parte de um só corpo: a América do Sul.


Além dessa constatação, quando estava retornando ao Brasil, me veio à mente a viagem reflexiva e elucidativa que fez um jovem argentino nos anos 50. Um burguês de classe média, recém médico, chamado Ernesto Guevara de la Serna (1928-1967). Claro, eu não sou ele e, além disso, sua viagem aconteceu em outra época, mas pude enxergar através da Argentina e Uruguai, que a América do Sul quase não mudou desde o tempo em que Ernesto a rodou em cima de uma motocicleta. O povo latino-americano continua sendo explorado. E foi isso que mexeu com aquele jovem argentino e também com esse humilde pernambucano que lhes escreve. Mas vamos ao que interessa: o que eu vi na cidade de Buenos Aires.

Ao perambular pelas calles portenhas, pude imaginar por que a chamavam de a “Paris da América do Sul”. A capital dos argentinos ainda ostenta uma beleza arquitetônica que, quem sabe, provavelmente não existe em outras capitais da América do Sul. Os edifícios antigos são um grande exemplo do quão forte foi a influência da arquitetura européia. Fiquei realmente deslumbrado com as edificações, principalmente as do início do século passado, cujas fachadas exibem as diversas tendências do que havia de melhor no velho continente. Detalhe: os nomes dos arquitetos que as planejaram estão gravados em seus frontispícios. Claro, existem edificações de mau gosto. Existem prédios moderníssimos também, como por exemplo, os que estão na região portuária, que foi revitalizada: Porto Madero. Lá foi feito um belo trabalho urbanístico. Projeto elaborado pelos setores público e privado. Outra coisa: chamaram-me a atenção, suas avenidas anchas - como as denominam os portenhos -, com relevância em especial para a maior delas: a Avenida 9 de Julho. Uma visão que me pegou de jeito. Foi como se ela fosse uma grande ópera cujo grandfinale terminasse no seu obelisco, monumento que foi erigido em 1936 em comemoração ao quarto centenário da fundação da cidade.

Pode ser que, quem agora esteja lendo estas linhas, me venha censurar, por eu estar elogiando assim, com tamanha ênfase, a capital dos argentinos, mas confesso que aquela cidade me fisgou.

Eu sei que os portenhos ainda carregam um ar de soberba com eles, mas creio que muito menos agora, neste momento em que a situação econômica do país passa por uma crise, em que o governo da Sra. Cristina Kirchner anda em baixa na opinião de muitos dos argentinos. Eu mesmo pude constatar tal situação ao indagar os taxistas, porteiros e outros tipos, principalmente, de trabalhadores comuns. Eles estão deveras descontentes com a gestão da “La Señora”. O seu partido perdeu algumas cadeiras no congresso e está em minoria agora.

Ah, por falar na presidenta, visitei a Casa Rosada. Uma edificação que parece, mal comparando, o Palácio de Buckingham em cor rosa. Visitei o palácio presidencial e constatei a suntuosidade e beleza de suas dependências. Pude sentir, ao observar todo seu interior, que aquele país viveu momentos de glória como poucos países na América Latina. Os salões são amplos, com móveis ricos em detalhes; colunas com adereços em ouro. Vitrais coloridos ornam os acessos aos salões. Verdadeiras obras de arte compõem seu interior.

A sua guarda é poliglota. Os jovens cadetes todos empertigados dentro de seus bem cortados uniformes em azul e vermelho - nada daqueles trajes “o defunto era maior” que aparecem nos filmes “Made in USA” sobre “los chicanos”-, nos guiavam através dos diversos ambientes do palácio governamental. Confesso que fiquei matutando como vivera Evita e Juan Carlos Perón naquela casa; os dois andando pelos corredores daquele palácio e tomando um fresco no belo jardim de inverno que existe no interior da casa, discutindo banalidades e também o futuro dos argentinos. É pena que não nos foi permitido entrar no salão que dava para o balcão onde ela, Evita, saudava o povo como se fosse uma deusa, ou melhor, uma santa viva. Aliás, fui ao famoso Cemitério da Recoleta, onde seus restos mortais descansam.

Ainda falando de política, achei super engraçado, o fato de um taxista me pedir emprestado Lula por dois anos – “Solamente por dos años!” - disse ele. Ele queria o nosso presidente torneiro mecânico para colocar as coisas nos eixos em seu país. O que mostra que Lula anda mesmo em alta, mundo afora.

Outro fato que me chamou a atenção foi que, antes de sair do Brasil, o meu amigo, o historiador Miguel Angel Rodriguez, um apaixonado e estudioso de Jorge Luís Borges, me encomendou alguns títulos do filósofo, poeta e pensador argentino. Esta tarefa que ele me deu me proporcionou uma incrível constatação: a de que Buenos Aires tem mais livrarias do que no Brasil inteiro! Somente na Av. Corrientes contei umas vinte, só no perímetro entre a Florida e a avenida que me conduzia ao hotel onde estava – Av. Callao com Calle Bartolemé Mitre. Fato impressionante, sem dúvida. Detalhe: todas as livrarias estavam quase sempre cheias de gente. Ou seja: o argentino de Buenos Aires gosta mesmo de literatura. Nós brasileiros devíamos seguir este bom exemplo dos hermanos.

Com relação à comida, cheguei à triste constatação de que, tal qual os gaúchos do nosso querido Rio Grande do Sul, os argentinos são comedores vorazes de carne de boi - só fui comer peixe em Montevidéu. Todavia, entrei um pouco na deles, o que me proporcionou, num dos dias, um mal estar daqueles, suficiente para não ir com um grupo de amigos para uma noitada no famoso Café Tortone, para assistir e ouvir Tango. Tive que me recolher ao meu quarto de hotel, depois de ingerir um efervescente e muita água mineral. Todavia, também pude experimentar suas boas ceverzas e seu famoso Fernet con Coca, além de alguns bons vinhos de Mendoza de que, em parte, eu já conhecia a boa qualidade.

Outra constatação, que me chamou a atenção, foi o fato de ser bajulado em todos os centros comercias de Buenos Aires, como se rico fosse. Fato que me lembrou do tempo em que nós brasileiros é que os bajulávamos, quando sua moeda era forte tanto quanto o dólar americano. “És la vida, hermano. Ou melhor, “son las malas administraciones de los gobiernos Menem e Kirchner”, diriam os argentinos.

Bom, de modo geral, gostei de ter conhecido Buenos Aires. Sem dúvida faltou muita coisa para conhecer na Argentina, eu sei, mas quem sabe em outro momento poderei fazê-lo, pois eu penso em volver allí, assim que puder.

No fundo, lamentei toda a situação por que estão passando nossos hermanos, mas mesmo em baixa, eu senti que eles ainda são uma gente briosa, com um senso de luta muito presente. Não se rendem facilmente. Lutam até o último momento. Por isso, é que nós, brasileiros preferimos pelear con ellos pelo grande combate que eles proporcionam durante todas as peleas em que nos enfrentamos, no fútbol, i claro.

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