sábado, 19 de março de 2011

O Diabo impressiona lusitano!






















Gente amiga, o poeta e escritor lusitano Silvério da Costa honrou meu segundo livro com uma resenha. Confiram e, se não concordarem com ele, se pronunciem:

"O Cruzeiro de Nozinho"
por Silvério da Costa para Coluna Fronte Cultural do Jornal Sul Brasil de 10 de Fevereiro de 2011

"Quando comecei a ler o livro “Onde o Diabo Perdeu as Botas”, de Hélio Jorge Cordeiro, agora vivendo em Chapecó, logo me veio à cabeça o livro “Os Cus de Judas”, do português Antonio Lobo Antunes, título alusivo a algum lugar que fica no fim do mundo, como se costuma dizer, no caso “Vila Luso”, no Leste de Angola, para onde ele foi mandado, durante a “guerra de Angola”, como médico que é, e por onde eu, infelizmente, também andei, antes dele, a serviço de uma guerra fratricida e inglória.

Mas...voltando ao livro de Hélio, a história é passada numa pequena povoação chamada Cruzeiro da Bahia, que fica em Minas Gerais. A trama gira em torno da rivalidade entre duas facções políticas, tendo como fio condutor um cruzeiro constituído, outrora, por Nozinho Albuquerque, avô do narrador, que atende pelo cognome de Lindinho. Nozinho era um descrente que recebeu de seu pai, a título de remissão dos pecados, tal incumbência. O cruzeiro, que virou símbolo da localidade, deveria ser preservado pelas futuras gerações, mas foi, posteriormente, por obra de graça do diabo, encarnado num engenheiro cheio de malícias e promessas, derrubado. Tal profanação deixou marcas estranhas nos corpos daqueles que, ambiciosos e demagogos, faziam parte das facções políticas, como, por exemplo: pelos nos meios dos seios de uma mulher; pés de trás para frente, num homem; bigode, numa outra mulher; escamas nas mãos de outra; e assim, sucessivamente. Males esses que acabaram por desaparecer, quando a farsa foi descoberta e desmascarada, e o cruzeiro reconstruído.

De permeio, é claro, não poderiam faltar as intrigas, os escândalos, os amores frustrados, as traições, as vinganças, enfim, as loucuras de toda sorte, sempre que a vida pessoal se imbricava com a política e a religião. Em resumo, a história fala da rotina diária de uma pequena cidade e narrada por Lindinho, que mora em São Paulo, e resolveu tirar umas férias para visitar “Cruzeiro da Bahia”, onde nascera e de onde se ausentara há 35 anos. É uma história de ficção, maniqueísta e digressiva, que rememora o passado, num discurso misto (direto e indireto), e percorre a vida de certas famílias e suas tumultuadas relações. É uma história repleta de pequenas histórias quase macabras, à moda Edgar Allan Poe, cujos ingredientes, usados e ousados, caracterizam a marca heliana de narrar. Vale dizer, ainda, que os personagens são muito bem retratados: divertem e fazem refletir, ao mesmo tempo.

O Hélio capta as imagens rotineiras daquela comunidade, transpondo-as para o papel, através de Lindinho, com grande sabedoria, porque é um autor que se preocupa com a urdidura do texto. Enfim, trata-se de um livro altamente meritório, já que é portador de uma narrativa de inegável qualidade.

Segundo o espanhol Carlos Ruiz Zafós, ler um romance é como passar férias no cérebro do autor. E foi o que eu fiz, uma vez que não sai de Chapecó, neste final de ano. Parabéns!"

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