terça-feira, 13 de julho de 2010

The little grasshopper and the master Zen-Zen


















Felipe era um garoto, digamos assim, diferente. Enquanto os outros garotos só pensavam nos folguedos juvenis, Felipe se dedicava à leitura. Consumia tudo que era leitura a sua frente. Um dia, seus pais resolveram mandá-lo para o monastério, já que as despesas tinham ficado pesadas para manter a prole, além do que, Felipe precisava estudar. Dar um diploma pra a família, quiçá o primeiro em mais de duas gerações. Chegado o dia, Felipe pegou sua maletinha, com o básico em vestimentas; sabonete, toalha (uma que a mãe ganhara de sua prima da capital), duas calças, três camisas, escova de dente, um par de sapatos novos (afinal ele merecia estar “impecável”) e, é claro, uma bíblia. O livro sagrado dos cristãos, não se fazia necessário, já que o lugar era um retiro budista. Enfim, Felipe se despediu de todos, sem derramar uma só lágrima, coisa que só aconteceria na primeira noite, no pequeno cubículo em que dormiu pela primeira vez no monastério. Já seus pais e irmãs, se derramaram em choros convulsos. Ao chegar ao monastério, Felipe foi encaminhado ao mestre Zen-Zen.

Zen-Zen tinha uns 97 anos, mas parecia ter 50 ou menos, dependia da hora do dia em que o conseguiam vê-lo no pátio interno do lugar. Zen-Zen foi enfático: “Nós só admitimos fracos aqui!”. Felipe assentiu e os dois seguiram por um longo e interminável corredor até o local aonde Felipe iria se alojar. Enquanto caminhava ao lado do mestre, Felipe observava tudo ao seu redor e ouvia atento um possível ruído, coisa que, para sua surpresa, era quase imperceptível. Nem o gorjear dos pássaros era ouvido naquele lugar, apenas os passos dos dois, mas Felipe notou que eram apenas os dele. O mestre Zen-Zen parecia levitar sobre a cerâmica encarnada do corredor.

Finalmente, Felipe e Zen-Zen chegaram ao pequeno cubículo. Não tinha mais que um metro e sessenta de altura por setenta de largura. O mestre retirou uma chave e abriu a porta. Felipe esperou que Zen-Zen entrasse primeiro, mas o mestre ficou parado, inerte, parecia meditar. Felipe entrou. Imediatamente a porta fechou-se. Felipe ainda sentiu a sensação de que ouvira Zen-Zen dizer: “Nós só admitimos fracos aqui!”. Deixou sua pequena maleta ao lado do catre e dirigiu-se a pequena janela que havia. Abriu-a. Um vento forte açoitou seu rosto. Felipe fechou a janela de imediato. Ajeitou suas madeixas e sentou-se num pequeno banco onde pousava um pequeno livro: “A fraqueza é a mãe de todas as sabedorias”. Ele pegou o livro e pôs-se a folheá-lo. Não estava interessado em nada que estava escrito ali. Seus pensamentos seguiam viagem até a pequena casa onde há pouco tempo havia morado; lá estavam suas irmãs, seu pai e sua mãe. Ah, o cão da casa; Vitório. Levantou-se e decidiu deitar-se no catre. Olhou pro teto e pensou: “Será que eu terei coragem de enfrentar a vida como todos querem que eu a enfrente? Será que há lugar para mim nesse mundo cheio de novidades e surpresas sem que eu me sinta surpreendido? Será que eu serei o que nunca pensei em ser?” Ele adormeceu e acordou sem acreditar mais em nada. Tempos depois, ele voltou a viver ao lado de sua família, mas eles estavam diferentes e Felipe sabia muito bem por que.

Assim, o jovem rapaz decidiu se engajar na vida política. Casou, descasou, casou e descasou, teve três filhos e se tornou o mais novo alcaide da pequena cidade onde sempre morou.

Só uma coisa Felipe nunca esqueceria: a voz de Zen-Zen dizendo “Nós só admitimos fracos aqui!”.

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