PREFÁCIO
EXT
– VARANDA DO APARTAMENTO – NOITE
AÇÃO!
O rapaz de 30 e poucos
anos está deitado em uma rede amarela de balanço. No seu colo, um
maço de folhas impressas. Na primeira página se lê em letras
grandes o título da obra: A ÚLTIMA SESSÃO. Só pode ser algo a ver
com cinema, pensa alto. Não tem dúvidas: a abertura do livro já
vislumbra um grande plano geral de uma cidade grande bem conhecida de
todos os brasileiros, São Paulo. É ali onde se encontram
personagens que se misturam à fumaça dos automóveis e vez por
outra tornam cinza a feição da selva de pedra, com suas atitudes,
pensamentos e ações diversificadas. Nenhum deles é coadjuvante.
Aliás, nesta vida das letras, o salto que dão para a realidade é
algo intensificado através de detalhes, escritos com extrema
competência pelo “arretado” Hélio Jorge Cordeiro. Ou seria a
realidade que dá um salto para o registro romanceado do autor?
Ficção ou não, o livro nos traz cenas cadenciadas como numa boa
montagem de planos cinematográficos. É um roteiro que instiga,
delineia pessoas e coisas as quais o leitor irá se identificar com
certeza.
Recebi o convite para
escrever este prefácio e não sabia muito bem por onde começar.
Pensei no mais óbvio. É cinema, é sobre cinema. É baseado em algo
que infelizmente aconteceu em uma sala de cinema na cidade de São
Paulo. Vivemos este acontecimento através da imprensa da década de
90. Algo até então visto mais pelos cidadãos norte-americanos. Mas
aconteceu no Brasil. Minha dificuldade se encontra aí: tentar
compreender que aquilo não é só ficção, é documentário também.
É o recorte que cola aquelas pessoas naquele mundo, naquelas
vontades, naqueles saberes, desejos. Hélio prepara as cenas com
olhar mais do que fotográfico, pictural. É o diretor de uma obra
que faz, principalmente para quem viveu nos anos 90, perceber que
andamos “nos esbarrando”, que nossas experiências são muitas
vezes integradas e “ensaiadas” com outros personagens. Os jogos
violentos, as paixões obcecadas, os descontroles emocionais, a
realidade da periferia, os universitários e suas turmas, os
cineastas lutando pelos seus filmes em um país onde pensamentos
diferentes podem causar ódio e mal estar entre amigos. Ingredientes
poderosos para que as cenas deste diretor/roteirista nos traga uma
leitura poderosa, direta, reta e sobretudo cinematográfica.
Aproveite ao máximo!
CORTA!
Fernando Leão
Jornalista e Cineasta
Independente