quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Envenenamento literário
























Que dia tedioso, hoje! Chuva fina deste o raiar do sol (!). Já que um amigo, outro dia, me enviou um conto de Gabo, decidi postar aqui um trechinho para esta chuvosa véspera deste feriadão, depois, quem sabe, eu continue postando o  restante. Sei, sei é muito pouco, mas são com doses pequenas que matamos sem que se apercebam do ato criminoso. (rsrsrsrs):

A Mulher que chegava às Seis

Por Gabriel García Márquez

"A porta oscilante se abriu. A essa hora não havia ninguém no restaurante de José. Acabavam de dar seis horas e o homem sabia que só às seis e meia começariam a chegar os fregueses habituais. Tão conservadora e regular era sua clientela, que não havia o relógio acabado de bater a sexta badalada quando entrou uma mulher, como fazia todos os dias à mesma hora, e se sentou sem dizer nada na alta cadeira giratória. Comprimindo entre os lábios, um cigarro apagado.

- Olá rainha – disse José quando a viu sentar-se.

Logo caminhou para o outro extremo do balcão. Limpando com uma rodilha seca a superfície envidraçada. José sempre agia dessa maneira à entrada de alguém no restaurante. Mesmo com a mulher, com quem chegara a adquirir certo grau de intimidade, o gordo e corado dono do restaurante representava sua habitual comédia de homem diligente. De onde se encontrava, falou:

- Que queres hoje? – disse.

- Antes de mais nada quero te ensinar a ser cavalheiro – disse a mulher. Ela estava sentada no final da fileira de cadeiras giratórias, de cotovelo sobre o balcão, com o cigarro apagado nos lábios. Ao falar,  comprimiu a boca como a chamar a atenção de José para o cigarro.

- Não me havia dado conta – disse José.

- Não te deste conta de nada, todavia – disse a Mulher."

(...)

4 comentários:

Anônimo disse...

estás em terras tsunâmicas, meu rei?

F.

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Sim, pescando almas no Itajaí-Açu! rsrsrsr

Anônimo disse...

"— Partamos enquanto é noite
irmãos das almas,
que é o melhor lençol dos mortos
noite fechada".

JCMN

Hélio Jorge Cordeiro disse...

A propósito dos teus escritos viajeiros, aqui vai mais uma do pernambucano cabra da peste de boa poesia:

"— Antes de sair de casa
aprendi a ladainha
das vilas que vou passar
na minha longa descida.
Sei que há muitas vilas grandes,
cidades que elas são ditas;
sei que há simples arruados,
sei que há vilas pequeninas,
todas formando um rosário
cujas contas fossem vilas,
todas formando um rosário
de que a estrada fosse a linha."

JCMN