quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Cartinha



















A CARTINHA

por Hélio Jorge Cordeiro

Querida e estimada madrinha.

Só hoje é que tive tempo para lhe escrever estas linhas.

A senhora não imagina o quanto uma cidade grande é complicada. Nada parecido com a nossa querida Pau D’Arco. Madrinha, minha saída daí foi como a jornada de Jasão. Depois eu explico.

Como ia dizendo, descobri um mundo novo, repleto de desafios, mas também cheio de coisas boas e bonitas. Estarei sempre grata pela ajuda que a senhora e o padrinho me deram para estudar. É pena que ele não esteja mais com a gente, mas tenho a certeza que, onde ele estiver, estará orgulhoso de sua afilhada. Saber ler é como quem descobre um novo mundo a cada dia. Estou abismada com a quantidade de coisas que ainda tenho que conhecer. Tenho fé de um dia voltar e repassar tudo que aprendi. Desejo fazer pelos meus conterrâneos o que vocês fizeram por mim. E lembrar que há pouco tempo eu não tinha nem o primário!...

Gostaria de escrever mais, só que o tempo é pouco, aqui por estas bandas. Se, pelo menos, a senhora tivesse internet... Não, é melhor assim, pois com essa nova modernidade a gente termina desaprendendo a escrever à mão... É sempre bom abrir uma carta de quem a gente gosta, não é?...

Madrinha, aqui tem um lugar que tem me ajudado muito a entender mais esse mundão de Deus. Estou falando de uma livraria. Ela é maior que a nossa biblioteca aí em Pau D’Arco. Acredite. Tem tantos livros, que não caberia no cercado do coronel Zezin. Chama-se Livraria Cultura. Só acho, Madrinha, que os livros, no Brasil, são muito caros. Deveria ter uma lei que fizesse com que, a cada livro vendido, outro fosse doado para as bibliotecas. Ou melhor, a cada um vendido, três fossem doados...

Madrinha, tenho que terminar, já passa da meia-noite. E, como a senhora sempre me disse, “Deus ajuda quem cedo madruga”. Beijos no pessoal. Estou lhe mandando, por estes dias, a coleção completa de Monteiro Lobato, pra Luzinete, Zé Chico e Raimundinho. Ah, Alina já arranjou namorado?

Beijos de sua afilhada, saudosa e sempre.

(Este foi um dos muitos contos que enviei para o Contos da Cultura, uma promoção da Livraria Cultura da Avenida Paulista em São Paulo)

4 comentários:

Anônimo disse...

Que belo conto recheado de boas novas, entrelaçado de incentivo a leitura e ao hábito de visitar e saborear livrarias, além da doação, pra lá de bom.
Gostoso receber cartas, abri-las imaginando seu conteúdo, sinto falta até da minha caligrafia que hoje anda cheia de dedos nas teclas, rss

lindo dia,
beijos

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Pois é Marcia, nem lembro mais quando escrevi uma carta a punho. Obrigado por ter gostado!

beijos

Rubens da Cunha disse...

Sem perder a ternura e a ironia :)

abraços

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Rubens! Cê por aqui! Pois, é, rapaz, com uma pitada de cada coisa faz-se uma comidinha daquelas! Hummmmm!

abraços