quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Uma indiscrição? Não, uma lição de vida


Acabei de ler as correspondências entre Sergio Faraco e Mario Arregui, de 1981 a 1985, ano em que Mario Arregui morreu. Esse livro foi um achado, pelo menos pra mim, que nunca havia lido esse tipo de trabalho. Aliás, a iniciativa foi do filho de Arregui, Martín, que propôs a Faraco a publicação das cartas. Este resistiu, pois, para ele, se tratava de uma coisa íntima, pessoal, privada entre os dois, mas Martín terminou convencendo o contista gaúcho do contrário. Ainda bem! Sairam, por fim, duas edições: em português e em espanhol.
As cartas trocadas entre esses dois grandes narradores latino-americanos, um uruguaio e outro brasileiro, são de uma tal honestidade e simplicidade, que nos faz tirar a impressão de que todo literato é arrogante, inflexível. Essa impressão é desmontada quando os vemos confabulando pormenores narrativos de suas criações, acertos e críticas mútuas, mas, e acima de tudo, os dois carregados de generosidade em suas propostas e tendo como base a literatura. Além disso, os dois falam de família, amigos, política, desejos, sonhos, defeitos e, sobretudo, o amor pela literatura. Mesmo sabendo o desfecho final dessa amizade breve,com a morte Arregui, consumi o livro com voracidade, não para saber detalhes sobre a morte do contista uruguaio, mas para conhecer os caminhos que fizeram esses dois homens, com quase os mesmos predicados e defeitos, se doarem, ao longo de quatro anos, na empreitada que foi a tradução e organização do livro ”Cavalos do amanhecer”. Essa amizade de quatro anos cravou-se para sempre em seus corações como os punhais das narrativas campeiras dos dois autores. A leitura de “Correspondência –Mario Arregui & Sergio Faraco – Diálogos sem Fronteiras, L&PM Editores - 2009”, é um aprendizado, sem dúvida.
Depois de ter lido “Cavalos do amanhecer”, ficou mais fácil entender as personalidades do autor e de seu tradutor. Se um dia eu tivesse algum trabalho de relevância literária e quisessem me traduzir, gostaria de ter um tradutor com o empenho, a sinceridade, a firmeza e criatividade de Sergio Faraco.
Outro fato relevante desse livro é que Arregui e Faraco nos oferecem um catatau de nomes e obras que já pagaria a leitura do livro por essa dica involuntária. Eu, por exemplo, fiz uma pequena lista de autores de língua hispânica a partir dessas informações contidas no “Diálogo sem Fronteiras”. Me propus a ler os mesmos o quanto antes. Já conheço Borges, Cortázar, Galeano, Márquez, Llosa, agora Arregui, mas ainda faltam muitos outros nomes de autores que a dupla nos fornecem através de suas missivas. Também chama a atenção nesse livro de correspondências  quando os dois falam criticamente dos editores. Há momentos de reserva, mas, também, de impaciência com eles, o que temos que observar, para não criarmos imagens muito positivas dessa espécie tão especial do reino literário.
Por fim, depois desse livro, de suas dicas e preciosas lições de vida, não sei como vou dar conta de tanta leitura, já que, ao mesmo tempo, tenho que escrever os ajustes finais de meu livro, (que será o quarto), com o título provisório “A Noiva do Porto”. O lançamento gostaria que fosse por volta de abril de 2013, depois, é claro, de “Malvadeza Durão”. Ufa!

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