domingo, 22 de dezembro de 2013

Pela parte que me cabe nessa resenha


 

Os escritores alegres estão chegando 

por Felipe Damo


Bem que São Domingos Sávio avisou: a santidade consiste em estar sempre alegre. Oras, se é melhor ser alegre que ser triste por que a literatura teima em povoar nossas vidas com tanta desgraceira, não é mesmo? Mas isso está acabando. E tive a prova desta tendência neste ano que quase termina, quando li, reli e tresli duas obras de nossa prolífica literatura tupiniquim que chegaram às minhas mãos.

O primeiro foi Malvadeza Durão, do pernambucano Hélio Jorge Cordeiro. O segundo é Agora Deus vai te pegar lá fora, do gaúcho Carlos Moraes. Os dois, separados por milhares de léguas terrestres – para ficar mais poético – mas unidos pela boa escrita e pelo ótimo humor.

Cordeiro conta a história acidental de um justiceiro atrapalhado que assombrou o Rio de Janeiro em meados do século XX. Moraes narra, naquele tom meio-auto-biográfico-meio-confessional-envergonhado as peripécias de um padre preso no interior do Rio Grande do Sul, em plena Ditadura Civil-Militar.

Combinando a riqueza de detalhes com personagens e causos insólitos, os dois vão criando um fio de narrativa viciante, que pulsa e convida o leitor a sempre virar a página sem fechar o livro.

E aí vem o mais divertido, além das estórias serem repletas de sutilezas, bem contadas e de leitura prazerosa, o ingrediente bom humor faz com que o leitor dê boas risadas ao desenrolar da trama. Assim como Luis Fernando Veríssimo e Jô Soares, Cordeiro e Moraes recuperam o papel do livro como entretenimento indispensável para uma vida psicologicamente sã, saindo daquela sisudez tão apreciada por alguns (mau)elementos de nossa intelectualidade.

Sim, porque em tempos de tantos melindres sentimentais coletivos, é preciso que alguém faça a defesa de um mundo de delícias e graça, sob a pena de virarmos todos uns chatos amargurados vivendo deslocados em um país que, ao que parece, finalmente deu certo. É preciso defender o riso ao choro, a piada ao drama social. Quem diz que não se faz crítica dando risada?

O time dos escritores alegres e de bem com a vida vem aí, está aumentando a cada dia e logo dominará o campinho. E aos mais rebuscados e taciturnos, aquele pessoal das metonímias e das paronomásias, que fique a paráfrase ao outro Moraes, o Vinícius: que me desculpem os críticos, mas a alegria é fundamental!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Aos trancos e barracos!































Pessoal, neste sábado, 14/12/2013, passado, o jornal mais importante de Itajaí, pra não dizer do Vale do Itajaí, dedicou quatro páginas à cultura itajaiense, representada pelos amigos, Marcelo Moraes, Giana Cervi e Valéria de Oliveira. Foi uma das poucas vezes que o Diarinho, dedicou tamanha reportagem com representantes de nossa cultura, talvez pelo fato de que, recentemente, Itajaí foi palco de um dos mais lamentáveis acontecimentos no campo cultural, em toda sua história, Esse fato foi  seguido por um lamentável pronunciamento, em plenário, por um vereador do PP, partido aliado do governo municipal, que repercutiu no Diário e em todas as redes sociais. Eu, pessoalmente, fiquei satisfeito, tanto pelas palavras de meus amigos, quanto pela iniciativa do jornal, que os ouviu e que agora, quiçá, passará a ouvir toda a classe artística e cultural de Itajaí e suas reivindicações. Espero que todos, ligados (ou não) à cultura, possam adquirir o Diarinho do sábado passado e que exponham suas considerações acerca dos assuntos abordados no Entrevistão.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

UM CONTO QUASE DE NATAL



















UM CONTO QUASE DE NATAL
por Hélio Jorge Cordeiro

Pela rua deserta, ele caminhava solitário. Garrafa na mão e muitas desilusões sobre as costas. Divisou a alguns metros, sob a luz tênue do poste, um cão comendo alguma coisa não identificada.

Aproximou-se do animal e lhe perguntou:

- O que comes, cão?

O cão nem deu bola ao que ele lhe perguntara e continuou a comer. Novamente, ele perguntou:

- Oh, animal infeliz, o que estás a comer, miserável?

Então o cão levantou a cabeça e respondeu:

- Não sabes tu que hoje é Natal?

Ele ficou pensativo por alguns instantes e depois falou para o cão:

- É, eu sei que hoje é Natal, mas o que eu perguntei foi o que tu estás a comer com tanto apetite.

O cão, que havia voltado à sua mastigação, parou e disse:

- Pois eu vou te dizer - estou comendo as tuas melhores recordações, pois nem com elas, tu conseguiste te levantar dessa merda em que tu te meteste. Vou comê-las todas e não sobrará mais nenhuma para quando quiseres te lembrar delas. Aí, tu lamentarás ter nascido nesse dia, aliás, dia esse tão hipócrita e cínico de tua sociedade, que nem nós, cães, suportamos. É por isso, que estou comendo o que tu não deste valor nenhum. Agora cai fora que não posso parar, tenho mais lembranças, de outros idiotas como tu, pra comer ainda hoje.

O homem saiu, deixando para trás tudo que havia construído anos após anos. 

Uma leve névoa tomou conta da noite e não se pôde ver mais, nem homem, nem cão, tampouco, nenhum sinal de que era Natal.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Viva a Cultura, Viva Giana Cervi!

Gente, aqui está o vídeo com o pronunciamento na Câmara de Vereadores de Itajaí, SC, de nossa querida Giana Cervi, respondendo as agressões recebidas de um vereador do PP:

VENHAM AQUI: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=BR60953

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Ler Caçar Amar

























Gente, mais uma vez, surrupiei este seu excelente artigo do meu amigo Enzo Potel, na sua coluna Estado de Emergência, no Página 3 Expresso:

Ler Caçar Amar

 Por Enzo Potel 
(03/12/2013)

 Eu ganhei o “Desça, Moisés”, do Faulkner. Embora seja um livro de contos interligados, suspeito que tenha uma extrema unidade, muito próximo de uma experiência romanesca. Até agora só li O Velho Povo e estou lendo O Urso. Eu ainda amo a versão menor do conto, que aparece no Uncollected Stories, mas o Faulkner narrando uma caça é uma coisa mágica. Fico pensando se eu deveria procurar outros autores no tema, mas percebo que a visão que ele tem da vida e o jeito que ele embaralha as informações é que apaixonam. Eu ainda acho que o ser humano perdeu a graça divina sobre a Terra quando deixou de ser nômade, por isso esse contato com a natureza mexe um pouco comigo. Tanto o Faulkner como a Blixen afirmam um relação de amor e adoração por aquilo que se mata durante um safári ou caçada – situação que nunca vivi, sentimento que só suponho que compreendo. E eu já vi isso no argumento de outras pessoas: de que o caçador corre em nosso dna e quando a gente caça um animal a gente se reconecta com um algo perdido. Se você pensar que isso pode ser feito de forma equilibrada – e ainda o é, pelas poucas tribos que existem no nosso planeta –, e que os animais também tem o direito natural de nos caçarem, ok. Se não, basta rezar pra reencarnar num planeta onde não existam dentes.