quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Viva o Saci que existe dentro de você!

Viva 31 de Outubro, o dia do Saci

Hoje, comemora-se o dia do Saci, negrinho travesso de uma perna só, - magina se tivesse duas! - personagem de nosso folclore e, um dos mais conhecidos e adorados pelas nossas crianças ou dos que já foram, como eu, por exemplo. 

Desperte o Saci que existe dentro de você. De vez em quando é bom para sair do marasmo pulando de uma perna só e escondendo as coisas dos outros. Tá, esta última os políticos já fazem, eu sei.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Como abrir sua editora

Gente amiga, resolvi postar um artigo bem interessante sobre como abrir uma editora, no blog Carreira Solo. Aqui vai:
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Quero montar uma editora. Como fazer?

por Carolina Vigna-Marú

Algumas linhas gerais. Mas é extremamente importante que você siga a sua intuição e não leve isso aqui a ferro e fogo, ok?


Nota rápida do Editor: a Carol responde seus e-mails com posts. É um hábito que, para o leitor que mandou o email é uma surpresa e tanto e para o editor aqui um presente sempre bem-vindo: um post prontinho! Então aí vai mais uma resposta fundamental para uma dúvida bastante especial da comunidade dos freelancers brasileiros. Capítulo de hoje: montar a própria editora!

Choices?


Creative Commons License
photo credit: Shraddha Rathi

O mercado editorial está em transformação e, muito sinceramente, ninguém sabe direito para onde vai. Não tem fórmula mágica, acredite. Vou tentar te passar aqui algumas linhas gerais mas é extremamente importante que você siga a sua intuição e não leve isso aqui a ferro e fogo, ok?

0. Linha editorial

Botei “zero” de propósito, por ser o ponto mais crucial de uma editora. Tenha uma linha editorial definida e seja fiel a ela. De nada adianta você receber, por exemplo, o novo original do Harry Potter se você não publica livros infanto-juvenis. Você não vai conseguir trabalhar o livro direito, até pela falta dos canais certos e vai acabar matando o original. Com o crescimento natural da editora, nada te impede de, depois, abrir novas linhas, ou até mesmo novos selos editoriais, mas mantenha-se sempre fiel às suas escolhas, por mais tentador que seja algo diferente. É melhor recusar um livro ótimo do que matar um livro ótimo.

1. Tiragens pequenas

É muito comum que a gente, por entusiasmo, dimensione as vendas de um determinado projeto com um otimismo além da conta. É fácil cair nessa armadilha porque os projetos editoriais são feitos com tanto carinho que é muito difícil acreditar que o resultado final não vá revolucionar o mundo e vender feito água no deserto. O mercado editorial é um mercado de paciência. Você pode mudar o mundo sim, mas não vai ser com uma única publicação. É tudo muito devagar e tudo muito aos poucos. Então, pelo menos no começo, limite suas tiragens a mil exemplares (o mínimo de gráficas). Não tem nada de errado – muito pelo contrário – em rodar uma segunda edição se precisar depois. Tem uma piada velha no meio: “Como o editor se suicida? Pula do alto do seu estoque.” Então lembre-se: pense muito, crie muito, imprima pouco.

2. Use tudo que puder

Eu estou absolutamente convencida de que a solução para o mercado editorial vai vir dos novos. Use twitter, plurk, orkut, qualquer coisa. Desenvolva aplicativos (joguinho, coisas pro facebook, etc), crie sites colaborativos (e gerencie-os bem!), coloque vídeos no youtube. Enfim, use as ferramentas que as editoras grandes não estão usando ainda (juro que não sei se por ignorância ou arrogância). Não ignore os pequenos. Tente conseguir que autores e/ou ilustradores seus visitem escolas ou universidades, dando palestras sobre o trabalho deles e monte uma banquinha na porta. Mesmo que a venda nestes lugares seja efetivamente pequena, vá onde está o seu público leitor, dê atenção a ele, valorize a sua opinião, escute o que tem a dizer. Se você conseguir ganhar o respeito do seu leitor, você está feito na vida. E para isso você precisa ir onde ele está. Converse com o seu autor sobre destinar alguns exemplares gratuitamente, dependendo do caso é claro, a professores, blogueiros ou outros “disseminadores”.

3. Cuidado com listas de discussão

Especialmente na linha editorial que você pretende seguir, que aqui no Brasil ainda é bem restrita (e portanto uma oportunidade interessante editorial, boa escolha!), as listas de discussão tendem a ser panelinhas fechadas e qualquer iniciativa de divulgar o trabalho nelas será entendido como spam. Entre, participe, debata outros temas e, claro, quando couber na conversa, divulgue o seu trabalho. As listas são essenciais mas precisam sempre ser entendidas como um centro de debate, nunca como um grande mailing.

4. Seleção de originais

Quando você abrir para chamada de publicação, precisa deixar claro os seus termos. Deixe claro que é submeter original para análise e que você não responde por telefone, etc. O processo de ler e analisar um original é e deve ser lento para ser bem feito, mas é como em uma festa: quem está na festa se divertindo não sente o tempo passar mas, para quem está na porta esperando, cada minuto é uma tortura. Ou seja, não importa o quão rápido você seja nesta análise, o autor sempre estará ansioso do outro lado. É natural e você precisa respeitar o seu autor, mas não permita que ele o leve à loucura tampouco.

5. Gráfica

Gráfica boa, felizmente, é o que não falta no Brasil. Esta é a parte mais simples. Contrate um produtor gráfico e peça orçamento (*) em duas ou três gráficas diferentes. O produtor gráfico é o sujeito que vai ver o seu original e vai analisar que gráfica é melhor para o job, que papel é mais adequado, etc. Nem sempre a melhor gráfica é a mais indicada para aquele job. Existem autores e ilustradores geniais (Will Eisner
[bb]
, só para citar logo o rei) que criam suas obras em preto e branco. Dependendo da quantidade de preto, pode ser necessário um papel mais grosso, para não “vazar” do outro lado, mas por outro lado existem gráficas menores que fazem bons trabalhos em preto e branco, por exemplo. E você pode rodar o miolo em um lugar, a capa em outro e juntar tudo em um terceiro, coisa que pouca gente sabe.
Enfim, é uma área com muitos detalhes e, a menos que você tenha gosto pela coisa, contrate um produtor gráfico. A boa notícia é que existem muitos e bons. O custo do profissional se paga com a economia que você faz em adequar o seu job certinho.
(*) Não estranhe se depois de um certo tempo, a gráfica X sempre vier com o melhor preço. As gráficas dão descontos para clientes fiéis e como o seu produtor gráfico sabe disso, vai tentar rodar o seu job sempre nos mesmos lugares (além do fato dele já conhecer a gráfica, com quem falar, onde ir, essas coisas). Depois de umas quatro ou cinco “concorrências” é natural que você escolha algumas gráficas de sua preferência e fique com elas.

6. Distribuição

A distribuição é o calcanhar de Aquiles de todo editor. É o ponto mais dfícil. E é enlouquecedor. A maneira mais simples de não ter vontade e matar um ser humano todo dia no café da manhã é contratar um distribuidor.
O problema é que eles não aceitam poucos títulos no primeiro contrato e cobram uma fortuna. Muita gente, por falta de opção, acaba erguendo as mangas e fazendo a distribuição in house. É nesse momento que você enlouquece.
Cada livraria fecha de um jeito, em uma data, em determinadas condições. Os livros e revistas são sempre deixados em consignação nos pontos de venda e, na data de fechamento, você vai lá e recebe o que foi vendido. Nesta hora tanto você quanto o ponto de venda podem decidir renovar o estoque, manter como está ou não continuar mais (e neste caso você retira, é sempre o editor que paga a retirada, o restante do estoque).
O percentual de venda, que as livrarias chamam de “o meu desconto”, gira em torno de 50% do preço de capa. Se você for muito bom negociador, pode conseguir 40%. Se você for muito bom negociador e tiver muitos títulos, pode conseguir até 35, 30%, nunca menos que isso. Quem está começando paga 50% normalmente.
Os seus maiores custos são distribuição e papel. Sobre a distribuição, temos muito pouco a fazer. Sobre o papel, entra a figura do produtor gráfica que falei lá em cima. Ele vai saber como economizar no papel. E isso significa até mesmo mudar o tamanho da publicação para ter um aproveitamento melhor no corte da folha de papel. Portanto, contrate o produtor gráfico antes de começar a produção do livro.

7. Autores e ilustradores

Este é um contato pessoal e que a gente desenvolve com o passar dos anos. Respeite sempre o seu autor e o seu ilustrador mas se faça respeitar também. Proponha contratos corretos para ambos os lados (sim, isso é possível). Lembre sempre de colocar uma cláusula no contrato que te permita usar uma parte do trabalho para divulgação.
Se for de ilustração, deixe claro que você não vai usar a imagem para outro trabalho mas que precisa usá-la para divulgar o livro. Se for o de autor, deixe claro que você não vai republicar o texto dele sem a sua autorização mas que precisa de trechos para divulgação.
Outra coisa muito importante é cultivar o seu autor. Seja transparente. Mostre a contabilidade a ele (apesar de que eu acho que isso pode ser entendido como uma forma de tortura). Tenha uma contabilidade certinha, aliás. Atenda-o quando possível, tirando suas dúvidas ou simplesmente batendo um papo.
A atividade autoral é uma atividade muito solitária, o autor escreve absolutamente sozinho e sem certeza alguma de retorno e/ou publicação. O editor precisa se colocar como um parceiro do autor e nunca como um negociante. Acredite, tanto você quanto o autor só tem a lucrar com isso.

8. Organização

Você precisa ser muito, muito, muito (eu já disse muito?) organizado. Crie arquivos fup (follow up) para cada pessoa com quem você falar, escrevendo data, horário e conteúdo de telefonema ou email (ou pombo correio, ou sinal de fumaça, ah você entendeu!). Crie cronogramas realistas. Tenha cronogramas, aliás. Planilhas são suas amigas.
Organize a sua agenda por segmento (fornecedores, autores, ilustradores, etc), vai chegar uma hora em que você não vai lembrar se o Fulano da Silva é designer ou ilustrador, por exemplo.
No começo pode parecer que o tempo que você vai gastar para criar estas ferramentas de organização é precioso demais para ser gasto com isso, mas isso vai ser tão útil para você em um futuro breve que vale a pena, juro.

9. Revisores

Português é um idioma que só não é mais difícil que aramaico arcaico. Passe seus textos por revisão, de preferência mais que uma. O meu método pessoal de trabalho é assim (ênfase em pessoal, ok?):
  • Rev1 – sempre do editor
  • Rev2 – um redator, que muitas vezes pode sugerir alguma melhoria em estrutura
  • Rev3 – revisor, para resolver todos os buracos que deixamos na língua pátria.
E, claro, no final volta ao autor. Com o tempo você vai perceber que existem autores que aceitam este trabalho bem e até te agradecem eventualmente e existem aqueles que não aceitam mudança alguma.
É óbvio que você precisa ouvir o autor e muitas vezes existe uma intenção por trás de um erro ou de uma determinada estrutura lingüística, mas você precisa ter muito cuidado (e fugir destes!) com autores intransigentes. O respeito precisa ser bilateral.
Lembre sempre que um original que não se adéqua à sua linha editorial não significa, em absoluto, que o autor não se adéqüe à sua linha editorial e é importante tratá-lo com respeito, respondê-lo quando possível, etc, até porque amanhã ele pode te apresentar um texto fantástico que você vai querer publicar.
Esta relação é sempre muito delicada porque trata-se da criação do autor, mas valorize os autores que entendem que publicação é um processo e que cada etapa é importante para o produto final.
De nada adianta um original bem trabalhado e um serviço porco em gráfica, por exemplo, ou ainda uma ilustração magnífica impressa em um papel tão vagabundo que se vê a frente e o verso juntos. Editar algo, não importa o quê (livro, revista, vídeo, cinema, áudio, etc) é necessariamente um processo onde cada etapa tem a sua importância e o seu valor.
E se o seu autor não entender isso, passe-o adiante, na boa.
Agora, isso também não significa que você é o dono do texto. Você não é. O dono do texto é o autor. E se ele te justificar algo, escute e respeite.

10. Lucro

Pois é… Aqui é o grande X da questão. Editores experientes debatem a questão todo dia. Editores de todos os lugares do mundo não pensam em outra coisa. O mercado está mudando, e muito. A fórmula preço de capa – distribuição, direito autoral, custos de produção, gráfica, etc = lucro ainda funciona mas eu tenho certeza de que por pouco tempo.
Precisamos nos reinventar e, sem saber para onde o mercado vai, é bem difícil acertar. Comece devagar, sem medo mas sem pressa. Edite três, quatro títulos e trabalhe-os bem. Tiragens pequenas. Pense em formas de divulgar os livros que saia do ordinário. Sei lá, é caso a caso, uma história em quadrinho adulta de repente pode ter uma aceitação incrível no circuito da noite, de barzinhos e etc.
Vai dar trabalho mas vale muito a pena. Quem começa agora precisa não apenas ser bom no que faz mas precisa ser melhor do que os que já estão estabelecidos. Se você pensar “ah, a editora grande XPTO faz assim, então isso é bom pra mim também” vai fracassar. Você precisa pensar “ah, a editora grande XPTO faz assim, então eu vou fazer isso e mais aquilo”. Faça sempre mais, pense muito, reflita muito e gaste pouco.

Uma dica final?

Existem editais de governo que você precisa ficar atento, porque são uma venda enorme e valem muito a pena. Acompanhe sempre o site da CBL – http://www.cbl.org.br/ – para ficar informado.
E, claro, boa sorte!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Frases consoladoras





















“Estamos cheios de teorias sobre como é um conto ou um romance, e isso nos faz esquecer que a escrita é uma descoberta, é renegar essas fórmulas.” 


Alejandro Zambra (autor de A Vida Privada das Árvores - Cosac Naify - 96págs)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Jacinta manda lembranças.




 

















 Meus queridos e queridas, está aqui uma lembraçinha lá dos idos de 2008, pra ôcês!

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O RIACHO DE JACINTA
por Hélio Jorge Cordeiro

Naquela manhã, como fazia desde menina, Jacinta foi se banhar nas águas do riacho perto da fazenda. Aquela não era uma manhã como as outras. Quando Jacinta se levantou para o desjejum, sentiu alguma coisa diferente em seu corpo. Uma coisa sobre a qual ela pensou falar com Joana, sua ama de leite, mas decidiu ficar em silêncio e experimentar, ela mesma, o que era aquilo. No seu entender juvenil, era uma estranha quentura a correr lhe por todo corpo e um gosto agridoce no céu da boca. Um gosto que lhe fazia salivar a todo instante. Deste modo, sentindo-se diferente, Jacinta saiu para o seu banho matinal. Ela ainda ouviu a velha Joana a dizer-lhe: “Num fica muito tempo n’água que tu resfria, moleca!”. Depois, Jacinta não ouviu mais nada, a não ser as batidas de seu coração ansioso por chegar ao lugar que mais lhe dava prazer: o riacho.

Finalmente, Jacinta chegou ao local. As margens do riacho eram todas cobertas por uma relva rala. Aqui e ali havia touceiras e touceiras de capim. As águas corriam mansas. Essa tranquilidade só era interrompida pelos vôos rasantes dos pássaros pescadores e pelos zigue-zagues que pairavam no ar, como pequenos narcisos alados a mirar-se nas águas do riacho. Vez por outra um peixe prateado subia à tona, como quem quer saber das novidades lá fora, e depois voltava ao seu mundinho.

Como sempre, Jacinta tirava o vestido pela cabeça. Ela não usava calcinhas e, muito menos, sutiã. Seu corpo de menina moça, parece que tinha sido esculpido a mão por um artesão que após terminar sua obra ficara cego como castigo para não ver sua obra prima.

Quando a cintura do vestido de chita passou pelos seus peitos, esses se empinaram e voltaram como se fossem de borracha. Eles pareciam frutos por amadurecer. Jacinta jogou o vestido na relva e correu até as águas, que a receberam de bom grado, o que também fariam os gajos da vizinhança, se tivessem os mesmos privilégios.

Jacinta afundou e depois ressurgiu como uma sereia à flor d’água. Seus cabelos castanhos, molhados, agora se tornaram negros e brilhantes refletindo a luz do sol escaldante daquela manhã. Jacinta chacoalhou-os de um lado ao outro, respingando água ao seu redor. Ela sorria alegre, esbanjando todo o viço das mulheres de sua idade. Os seus dois frutos quase maduros batiam sobre o lençol d’água causando marolas que partiam em todas as direções conclamando que ali estava a se banhar uma deusa.

Jacinta voltou para margem e deixou-se jogar sobre a relva. A oleosidade de sua tez impedia de absorver toda a água sobre o seu corpo no qual os pingos pareciam casinhas redondas de vidro, indo e vindo. Seus pentelhos, negros, lisos, sedosos, espalhavam-se sobre a sua vulva, deixando suas formas à mostra como se fosse uma moldura barroca.

Jacinta respirou fundo e fixou seus olhos castanhos, que mais pareciam dois seixinhos que ela havia tomado emprestados daquele riacho, mirando-os em direção ao céu anil. Alguns pássaros sobrevoavam em algazarra. Um macho saiu da formação e perseguindo uma fêmea, procurando acasalar em pleno voo.

Depois, Jacinta fechou os olhos como quem faz um pedido em pensamento. Levantou-se e correu outra vez para água, mergulhando tal qual um peixe. Quando ela subiu a flor d’água, tomou um susto ao ver olhando pra ela, um rapaz. Jacinta baixou-se até a água tocar-lhe o pescoço e depois o fitou sem medo.

Algo no moço lhe chamava a atenção. Ela não sabia bem se era o seu rosto diferente em forma de concha ou a sua pele, que brilhava sobre os raios de sol como se fosse feita toda de prata. Jacinta continuou mirando-o. Ele, por sua vez, aproximou-se dela devagar a olhando fixamente. Jacinta não se intimidou, muito pelo contrário até esboçou um sorriso. O rapaz correspondeu com outro sorriso e se aproximou mais, até que ficou a meio palmo de seu rosto. Jacinta não disse nada, apenas consentiu. Ninguém havia ficado tão perto dela assim. Quer dizer, apenas a Dengosa, a sua vaquinha de leite e o seu vira-lata Dudu, cujas lambidelas talvez fossem a causa de seu rosto liso e sedoso.

O moço então foi afundando devagarzinho na água. Jacinta esperou, deu um sorriso e voltou a esperar que ele retornasse à tona. Não demorou, ele emergiu, olho-a e voltou a afundar outra vez. Ele ficou um tempão em baixo d’água, tempo suficiente para que Jacinta desse um jeito nos seus longos cabelos, entrançando-os e jogando-os de lado. Depois ela esperou. Finalmente, o moço subiu, sorriu para ela com um sorriso que foi de um canto ao outro canto de sua boca estranha! Emitiu um som de quem parecia estar gargarejando água, sal e limão. Em seguida, o rapaz afundou forte por baixo de Jacinta, que deu um grito de prazer. Prazer esse que jamais ela experimentara em toda a sua vida. Deu mais outro grito e mais outro...

Assim foi por muitas manhãs de sol quente e céu limpo até um dia em que Jacinta saiu pro riacho e nunca mais ninguém soube de seu paradeiro.

domingo, 13 de outubro de 2013

Hilda Hist




















Foto: Divulgação

 
Gente, olha só que bom artigo sobre a grande Hilda Hist que eu encontrei na Revista Grito:

Crítica: Fico Besta Quando Me Entendem – Entrevistas com Hilda Hilst 
26 de setembro de 2013, 01:56 
Por Renata Arruda 

Considerada maldita, pornográfica e hermética, Hilda Hist ainda luta por reconhecimento anos após sua morte 

Hilda Hilst sofreu durante toda a sua carreira como poeta, dramaturga, cronista e romancista: suas peças não eram montadas, seus livros não eram distribuídos, sua poesia não era acessível; passavam-se os anos e sua obra ficava esquecida, não relançada. Até que já no fim de sua vida, e após apelar para o que a própria chamava de “bandalheira” ao escrever livros pornográficos para poder ser lida, Hilda pôde ver seus trabalhos serem lidos, através do relançamento de toda sua obra pela Globo Livros a partir de 2001. Vindo a morrer em 2004, Hilda penou durante toda a vida sendo obrigada a se dar conta de que só seria lida depois de morta – e ainda assim muitos desconhecem sua importância.


Tida como autora hermética, complexa e grotesca, a mais recente publicação Fico Besta Quando Me Entendem – Entrevistas com Hilda Hilst, organizado por Cristiano Diniz e lançado pelo selo Biblioteca Azul, busca dar voz a Hilda e desfazer a fama de “escritora difícil” que tanto afastou o público. Em vinte entrevistas (todas realizadas pessoalmente, assim escolhidas por opção de Diniz) que abarcam cinquenta anos de carreira (1952 a 2002), testemunhamos uma Hilda ainda jovem, confiante na qualidade do seu trabalho e na possibilidade de viver deste, de tal forma que chegou a abandonar toda uma vida animada de eventos, festas e encontros para se isolar no sítio que chamou de Casa do Sol – local onde poderia receber amigos escritores, criar seus cachorros e se dedicar integralmente `a escrita, que levava muito a sério.


Em entrevista a Delmiro Gonçalves, publicada no Estado de São Paulo em 1975, ela comentou: “Quero ser lida em profundidade e não como distração, porque não leio os outros para me distrair mas para compreender, para me comunicar. Não quero ser distraída. Penso que é a última coisa que se devia pedir a um escritor: novelinhas para ler no bonde, no carro, no avião. Parece que as pessoas querem livrar-se assim de si mesmas, que têm medo da ideia, da extensão metafísica de um texto, da pergunta, enfim” (p. 30). Com o passar do tempo, Hilda começa a reclamar de editores que não distribuem devidamente seus livros (“parece que ele não quer que ninguém me leia. jamais encontro meus livros em livrarias”) e outros como Luiz Schwarcz que, segundo ela, deixavam de investir em literatura de qualidade para investir 3 milhões de Cruzeiros em um livro de Bruna Lombardi, considerada por Hilda “uma marca”.


Uma dessas entrevistas chegou inclusive a causar mal estar entre Hilda e Caio Fernando Abreu, seu amigo, ao declarar que “não que ela [Bruna] não mereça esse dinheiro, mas é um absurdo o sr. Schwarcz deixar um escritor que ele edita, como é o caso de Caio Fernando Abreu, lavar pratos em Londres porque aqui o trabalho dele é desprezado em detrimento dessa subliteratura” (p. 145). A falta de papas na língua e da vontade de aparecer, circular e dar palestras, talvez tenham contribuído ainda mais para o silêncio gerado em torno da sua obra.


A autora apelou para a pornografia, criando na verdade uma espécie de “pornô cult”, pela inegável qualidade dos seus textos que em nada devem a uma tal “boa literatura”, e ficou carimbada no senso comum como autora obscena, maldita, em detrimento de toda a sua obra anterior, complexa e de cunho filosófico. Ainda assim, Hilda continuou desconhecida do público, sem dinheiro para pagar suas contas e passou a se conformar em ser uma autora para poucos. Até desistir completamente de escrever. Ao anunciar sua aposentadoria para a Folha de São Paulo, em 1999, ela declarou: “Ninguém me lê, nesses quase cinquenta anos foi assim, e me descobriram só agora, que estou quase morrendo. Eu ouço dizer muito que as pessoas não me entendem, e quando alguém me entende eu fico besta”(p.184).


Em um belo trabalho editorial, trazendo uma charmosa edição ilustrada com desenhos da própria Hilda, Fico Besta Quando Me Entendem faz jus à sua obra, servindo tanto como um apêndice para iniciados quanto como introdução para os curiosos, que irão se divertir e se aprofundar no brilhantismo bem humorado de uma autora que mesmo colocada no patamar de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, ainda há quem desconheça seus escritos.



FICO BESTA QUANDO ME ENTENDEM – Entrevistas com Hilda Hilst
[Editora Biblioteca Azul/Globo Livros, 242 páginas / 2013]
Organizador: Cristiano Diniz


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Reforçando!




















Pessoal, só para reforçar, aviso que os dois livros estão disponíveis para leitura grátis no Widbook. Os links estão aqui abaixo:

http://www.widbook.com/onde-o-diabo-perdeu-as-botas

http://www.widbook.com/malvadeza-durao

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Êba, vamos ganhar livros de graça!

















Aqui está uma matéria de interesse para o blogueiros ligados à literatura, que extrai do Diário de Pernambuco.

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BLOGOSFERA - Blogs literários ganham espaço em parceria com editoras Páginas pessoais ajudam a dar vazão à avalanche de livros despejados no mercado por ano


Fellipe Torres - Diario de Pernambuco
Publicação: 02/10/2013 11:23 Atualização: 02/10/2013 11:54


Mais de 57 mil novos títulos chegaram às prateleiras das livrarias no ano de 2012, entre reedições, bestsellers e obras voltadas para pequenos (ou grandes) nichos de leitores. Segundo pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira do Livro, o número corresponde à atuação de 197 editoras nacionais no período, cujo faturamento corresponde a R$ 4,98 bilhões. Para escoar a volumosa produção, os departamentos de marketing escapam dos caminhos tradicionais, como a imprensa e os críticos literários, e investem cada vez mais em outro tipo de formador de opinião: o blogueiro.

Por meio de parcerias, os “aprendizes” de crítico literário recebem exemplares antes do lançamento oficial e ficam livres para fazer resenhas, em texto ou vídeo, sempre com linguagem acessível. É um “ganha-ganha”: editoras divulgam as obras, blogueiros ganham livros e leitores têm acesso a opiniões de pessoas com preferências literárias semelhantes. Em Pernambuco, as páginas contabilizam até 20 mil acessos por mês.

“É uma via de mão dupla. Mas não me sinto pressionada a falar do que não gosto. Expresso a minha opinião. Se não me agrada, não recomendo, pontuando os motivos”, comenta Danielle Barbosa, do blog Garotas e Livros. A necessidade de se manter independente e com credibilidade é ratificada pela blogueira Carissa Vieira. “Já tive parcerias problemáticas e acabei desistindo. É preciso ter liberdade para se expressar. Da mesma forma que as editoras selecionam os blogs parceiros, nós também precisamos saber escolher”.

Fome de livro
O maior trunfo da troca de informações protagonizada por jovens é o estímulo ao hábito de ler. De maneira semelhante aos tradicionais clubes de leitura, a internet proporciona o diálogo em torno dos livros, o que contribui para atrair leitores e não-leitores. “Muita gente tem o primeiro contato com literatura na escola, onde quem nunca leu nada é apresentado a Machado de Assis. É um choque. Quem diz não gostar de ler é porque ainda não encontrou um livro que lhe agradasse”, comenta Brenda Lorrainy, do blog Catavento de Ideias.

Impulsionados pela manutenção do espaço online, os blogueiros se tornam leitores ainda mais vorazes, consumindo cerca de 70 livros por ano. Alguns chegam a quase dobrar esse número, como o biólogo Marcos Tavares, do blog Capa e Título. “Você começa uma série e se empolga para ler todos os volumes, tem vontade de acompanhar os lançamentos das editoras, então acaba lendo cada vez mais. Mesmo durante o meu mestrado, no ano passado li 129 livros. É uma válvula de escape”.

Encontro gratuito
Pouco depois de começar a postagem das resenhas, em 2011, Marcos se uniu a outros oito pernambucanos para criar o grupo Blogueiros PE, que promove encontros, promoções e divulga na internet o conteúdo gerado por eles mesmos. No sábado, às 14h, dentro da programação da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções, eles se reúnem com leitores. “Será um bate-papo informal para trocar ideias. Vamos falar como é o dia a dia de um blogueiro, perguntar quais as motivações de cada um e as dificuldades encontradas”.
Faça o seu
O essencial para manter um blog de literatura



Assiduidade
Para fidelizar os leitores, mantenha o blog sempre atualizado. Se não puder postar muitas resenhas, explore outros conteúdos relacionados ao mundo literário, como notícias, vídeos e curiosidades.



Sinceridade
Fale apenas sobre o que conhece, e se algo não lhe agrada, não elogie.





Divulgação
Interaja com os leitores, responda a todos os comentários, faça promoções, sorteios. Não esqueça de compartilhar o seu conteúdo em redes sociais e de ler e comentar em outros blogs.



Escreva
Seja criativo e comprometido ao fazer resenhas. Capriche no texto, sem copiar da internet. Use linguagem clara e acessível, sem erros. Opine sobre os livros com as próprias palavras, sem ser coloquial demais.

Parceria

Após alguns meses de blog, você estará habilitado a se candidatar aos programas de parceria das editoras. Antes disso, pesquise bastante para saber se concorda com a política da empresa e se você se adéqua ao perfil procurado.